Nesse mundão contemporâneo que nós amamos (às vezes nem tanto, mas tudo bem), vez ou outra aparece uma série/filme fazendo sucesso do “nada”, não é verdade? Netflix que o diga, pois tem investido em colocar produções “não-americanas” em seu catálogo e os resultados têm sido positivos.
Foi assim que eu ouvi falar de La Casa de Papel, uma série espanhola de Álex Pina que eu confesso que peguei pra assistir sem ler nada sobre. Só tava afim de fazer uma “imersão” na língua espanhola, mas como isso não vem ao caso: vamos ao que interessa!
A série começa contando como a vida de uma fugitiva “chamada” Tóquio (Úrsula Corberó) não anda nada fácil. Aliás é ela mesmo quem conta, pois a personagem narra toda a trama. Certo dia quando ela estava quase caindo em uma cilada, é abordada por um cara que promete colocar ela em um plano incrível. Esse é o Professor (Álvaro Morte), que a leva para uma espécie de uma colônia de férias dos bandidos, onde somos apresentados a mais sete figuras: Rio (Miguel Herrán), Nairóbi (Alba Flores), Berlim (Pedro Alonso), Moscou (Paco Tous), Denver (Jaime Lorente), Helsinque (Darko Peric) e Oslo (Roberto García Ruiz). Todos esses “alunos” tem habilidades criminais bem específicas para executar o maior roubo de todos os tempos: se trancar na casa da moeda da Espanha e sair de lá com mais de dois bilhões de euro!
Quem acompanha as minhas resenhas sabe o quanto eu gosto de analisar as características e a evolução dos personagens. Nesse ponto a série é um prato cheio! Primeiramente vou falar dos ladrões: apesar terem sido praticamente jogados na trama no início, eles são infinitamente bem construídos através dos flashbacks e das situações problemas que acontecem no decorrer do assalto. O lado humano dos mesmos é tão trabalhado durante a série, que me vi torcendo e odiando-os na mesma medida. Ainda dentro da casa da moeda, temos outros personagens destaques no lado dos reféns. Porém, não vou falar deles, porque seria spoiler de “prima”, mas deixo meu destaque para o Arturo (Enrique Arce): aquele que deu vontade dar uns socos em todas as aparições, mas que teve um desenvolvimento fenomenal.
Já do lado de fora da casa da moeda, temos a grande mente por trás do plano (Professor) e a equipe de negociação comandada por Raquel Murillo (Itziar Ituño). A construção de ambos funciona praticamente da mesma forma que os demais (histórias de vida conturbadas somadas ao acontecimento), então para não ficar redundante, deixo como grande ponto o “jogo de gato e rato” que vai tomando proporções que fogem do controle deles. Por vezes os diálogos e as situações beiram o absurdo, mas vamos deixar isso para depois.
Outro aspecto da série que me chamou muito a atenção foi como a narrativa tenta convencer que os bandidos não são tão ruins assim. Essa quebra do conceito de certo e errado é vista em situações como “não vamos roubar, mas sim fazer nosso dinheiro”, “não podemos matar”, etc. O Professor aparentemente não quer só vender a ideia de que eles são heróis, ele de fato se sente assim. Há um idealismo por trás do plano que certamente foi comprado por muitos espectadores. Se me convenceu? Bem, eu só queria ver confronto.
Porém certos aspectos me incomodaram… Para fazer a construção do lado humano dos personagens e vendê-los como bons moços, a narrativa por muitas vezes caminhou por situações absurdas. Apesar de não estragar o conjunto da obra, por algumas vezes eu me senti assistindo uma novela… Um exagero no drama com direito até a casal romântico… Menos, galera, menos…
Mas na minha opinião o ponto mais fraco foi o corte que o Netflix fez… Estou longe de entender as estratégias da empresa (e de produção de filmes/séries também, mas nem por isso eu deixo de dar “pitaco”), entretanto, diminuir os episódios e dividir a série em duas partes, quebrou toda a experiência. Falo isso, porque eu não esperei até abril (a gente apela pro “Jack Sparrow”) para ver o resto da série e terminei vendo no formato original. Pode parecer coisa de quem quer pagar de diferentão, mas sim, achei superior. Mas se o cara que fez a série concordou, quem somos nós na fila da torrada?
La Casa de Papel é uma série que não deve nada às produções americanas (até “engole” muitas) e ainda traz um “toque latino”. Apesar de não ter uma proposta revolucionária, ela acerta em sua narrativa, fotografia, trilha sonora, atuações e mantém o enredo com maestria. Se você ainda não se entregou ao hype, dá uma olhada, porque vale a pena. No mais: “o bella, ciao! bella, ciao! bella, ciao, ciao, ciao!“.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.