Lemos: Olho de Vidro – Manguetown


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On 29 de outubro de 2021
Last modified:29 de outubro de 2021

Summary:

Nesta semana, recebemos mais uma recompensa de um financiamento da Editora Draco. A obra da vez é Olho de Vidro - Manguetown, um quadrinho situado em um Brasil cyberpunk. Por mais que ultimamente eu esteja evitando obras que tratem de questões políticas, resolvi arriscar a minha sanidade e conhecer esse novo universo de Raphael Fernandes e da Rede Geek. Enfim, quadrinho devidamente lido, cá estou para falar sobre.

Nesta semana, recebemos mais uma recompensa de um financiamento da Editora Draco. A obra da vez é Olho de Vidro – Manguetown, um quadrinho situado em um Brasil cyberpunk. Por mais que ultimamente eu esteja evitando obras que tratem de questões políticas, resolvi arriscar a minha sanidade e conhecer esse novo universo de Raphael Fernandes e da Rede Geek. Enfim, quadrinho devidamente lido, cá estou para falar sobre.

Mas antes de baixar o aplicativo, sinopse:

Após um terrível conflito, o país se dividiu em duas nações diferentes: o Brasil do Norte e o Brasil do Sul. Porém, ao contrário do que desejavam os separatistas, a população teve um ano para migrar para o lado que quisesse, gerando uma nova configuração, cultura e mistura dos povos. Claro que isso não daria certo.

Enquanto o Brasil do Norte prosperou, com políticas mistas de produção de alimento e preservação da natureza, o Brasil do Sul tornou-se uma região extremamente urbanizada, com excesso de poluição, baixa qualidade de vida e um mar de concreto, silício e dor.

Nas ruas de Nova Sampa, conhecemos o sobrevivente urbano Bidu, que usa de sua malandragem para sair das mais absurdas situações.

Já está virando rotina eu vir aqui e elogiar o modo como algumas obras da Draco apresentam “Brasis” de formas interessantes. Em Olho de Vidro – Manguetown, não é diferente. Somos apresentados a um país dividido, mas com as culturas coexistindo nessa nova configuração de nação. Parece um pouco familiar, não é mesmo?

Contudo, a “diferença” reside no fato da história se passar em futuro com alta tecnologia e pouca qualidade de vida. Nessa representação de Brasil, temos uma belíssima construção de universo. Fiquei completamente hipnotizado com as cores, conceitos tecnológicos, cenários e, principalmente, com as referências. Como fã de muitos artistas pernambucanos, gostei muito de identificar aspectos da cultura do estado em diversos momentos. Vitor Wiedergrün mandou demais nas artes!

Quanto ao roteiro, é tipicamente cyberpunk. Temos uma galera resistindo aos abusos de uma grande corporação e, nessa construção ficcional, diálogos com questões bem contemporâneas a nós. Tanto que o que mais me interessou no projeto foi o fato dele trazer críticas às “empresas-aplicativo”. Nesse aspecto, o texto de Raphael Fernandes me trouxe inúmeras reflexões sobre as condições de trabalho que os entregadores e motoristas desses apps passam.

Porém, o que mais me cativou foi o texto da peça teatral que acontece dentro da história. Resumindo, uma das problemáticas do quadrinho é que peça “Exaustão” sofre censura, por ser um manifesto antiaplicativos. Por tratar das relações de trabalho, eu me identifiquei completamente com a mensagem passada pela “Companhia de Teatro Dionisíaca”. A construção do texto é simplesmente fantástica!

Olho de Vidro – Manguetown traz uma história dinâmica e com aberturas para reflexões importantes. Confesso que gostei muito do universo e espero que venham mais quadrinhos por aí. Já sei que em breve teremos um áudio jogo produzido em parceria com a Rede Geek e mal posso esperar! No mais, recomendo bastante a todos vocês que estão me lendo agora.