Provavelmente, você já se sentiu perdido em sua rotina. Em alguns momentos, parece que somos soterrados pelos acontecimentos e, quando nos damos conta, estamos tomando algum caminho estranho, onde nada faz sentido. Partindo desta ideia, Paco Roca nos entrega Las Calles de Arena, um quadrinho inquietante (no mínimo!). Sem mais enrolações, bora falar sobre?
Mas antes de recalcular a rota, sinopse:
É preciso ter muito cuidado ao escolher a rua certa para chegar a um compromisso já atrasado: um erro pode ser fatal. Em Las Calles de Arena, encontramo-nos perante a uma estranha e sugestiva viagem de um jovem por lugares habituais que, no entanto, parecem desconhecidos, dentro de uma realidade surpreendente, e ainda assim familiar. Estas são algumas ruas que navegam nesse mundo onde o impossível e o absurdo se tornam uma experiência verdadeiramente opressiva.
Se você acompanha as minhas impressões sobre as obras de Roca, provavelmente já sabe onde essa “resenha” vai chegar: elogios e mais elogios. É isso! Las Calles de Arena não é diferente. É uma obra forte que trata do nosso cotidiano. Do sentimento de impotência que, em diversas vezes, a vida adulta nos traz. Das inseguranças e da incapacidade de enxergar outras possibilidades.
Esse sentimento não é ilustrado apenas no protagonista que, perdido e sem nome, tenta voltar para casa. Cada personagem que surge nas páginas trata um pouco dos nossos medos. Pelo fato de estar passando por um momento difícil na minha vida, tive uma catarse poderosa ao ler àquelas inseguranças. Paco, mais uma vez, é certeiro ao tratar da condição humana.
Tudo isso é feito com um requinte fantástico. Além do tradicional traço do quadrinista, somos presenteados com inúmeras referências literárias. Algumas diretas, outras nem tanto. O resultado é uma leitura que transita entre Lewis Carroll, Kafka, Allan Poe e Dostoiévski. Ou seja, foi atravessador e me causou muita inquietação.
Geralmente, Paco Roca me traz lágrimas. Entretanto, Las Calles de Arena me trouxe um sentimento diferente. Foi como se eu olhasse um espelho. Trouxe angústia, mas também um desejo de me colocar em movimento. Vou ser repetitivo por aqui, mas não tem jeito: estou para conhecer um quadrinista melhor que Paco. Impressionante!
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.