Ler obras de autores pretos é algo que tenho feito muito recentemente, principalmente de obras redescobertas e super elogiadas. Kindred – Laços de Sangue, de Octávia E. Butler (1947-2006), é um romance muito comentado nos últimos anos, o qual era objeto de muitas indicações de amigos para que eu fizesse a leitura do mesmo. Pois bem, leitura concluída e aqui estou para falar sobre este livro, sem spoiler. Me segue!
Mais, antes da primeira viagem, a sinopse:
Em seu vigésimo sexto aniversário, Dana e seu marido estão de mudança para um novo apartamento. Em meio a pilhas de livros e caixas abertas, ela começa a se sentir tonta e cai de joelhos, nauseada. Então, o mundo se despedaça. Dana repentinamente se encontra à beira de uma floresta, próxima a um rio. Uma criança está se afogando e ela corre para salvá-la. Mas, assim que arrasta o menino para fora da água, vê-se diante do cano de uma antiga espingarda. Em um piscar de olhos, ela está de volta a seu novo apartamento, completamente encharcada. É a experiência mais aterrorizante de sua vida… até acontecer de novo. E de novo. Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.
A sinopse resume muito bem o enredo de Kindred – Laços de Sangue. A criança que sempre chama Dana, Rufus, é um menino que sempre está em situação de perigo. Ele é filho de Tom e Margareth Weylin, proprietários de uma fazenda de cultivo de alimentos e que, devido à época, mantinham pessoas pretas escravizadas. Dana sabia que era “chamada” por Rufus, quando ela sentia um tipo de tontura e acordava no século XIX.
Pensando em uma mulher negra numa época em que pessoas ainda eram escravizadas, é de certo que a passagem de Dana por este período não foi nada fácil. E a dificuldade não se limitava ao passado, mas também no presente de Dana, onde ela tinha alguém que fazia parte de sua vida: seu marido Kevin, um homem branco, que tentava entender o que se passava com a esposa, pois ele simplesmente a viu sumir, do nada.
Kindred – Laços de Sangue é uma leitura densa, quanto ao seu formato. Além da viagem no tempo que ocorre com a personagem principal, há momentos em que ela, Dana, relata acontecimentos de um passado não tão distante, como por exemplo, quando e como conheceu seu marido, Kevin. A todo momento, a história envolve o leitor, sendo intrigante, e o faz querer saber qual será a próxima chamada da viagem ao século passado (de acordo com o século no qual se passava parte da história, no caso, XX).
É um livro que exalta o poder feminino, principalmente, o poder da mulher negra. É nítido que o poder de decisão, organização, cuidado, sabedoria advém das mulheres deste romance.
Até mesmo a própria autora tem o seu espaço, sendo pioneira no afrofuturismo, misturando questões da população negra a elementos de ficção científica. Num estilo literário dominado apenas por homens, Octavia Butler é considerada a Grande Dama da Ficção Científica. Lutou contra a pobreza, a dislexia e o racismo, recebendo diploma universitário.
É inegável que Kindred – Laços de Sangue é uma excelente obra. Amei ler o livro, por mais que eu tenha dado uma pausa na leitura do mesmo, o que não dificultou em nada no meu retorno ao encontro de Dana e Rufus. É um livro que tem uma tradução com um vocabulário de fácil compreensão e que causa emoção variadas no leitor. Confesso que eu esperava mais do final, mas isso não apaga todo o percurso do livro, que é excepcional e que traz grandes reflexões. Recomendo!
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…