Em Nossa Vizinhança, de Alice Dunbar-Nelson (1875 – 1935) foi o conto do mês de janeiro de 2021, do Clube da Caixa Preta, financiamento coletivo que visa resgatar contos de autores negros que não foram traduzidos por aqui. Publicado originalmente em 1895, no livro Violet And Other Tales, o conto de Dunbar-Nelson aqui publicado pela Editora Escureceu, com a tradução de Gabriela Araújo. Lido no ano passado e lido de novo, agora Em Nossa Vizinhança terá uma resenha sobre. Me acompanhe!
Mas, antes de iniciarmos as fofocas do dia, a sinopse:
Em Nossa Vizinhança tem famílias compostas das formas mais variadas: umas mais calmas, outras mais barulhentas; que cuidam dos seus, mas também cuidam dos outros, ou ainda, que falam mais dos outros do que dos seus… Alice Dunbar-Nelson nos apresenta uma vizinhança que conhecemos e que, de certa forma, também é a nossa.
A família Hart dará uma festa, que sequer foi anunciada com palavras na vizinhança, mas esta já sabia, dado o rebuliço na residência da família. Isso despertava os olhares dos curiosos, aguçando o imaginário de todos os “não convidados” e, consequentemente, o que era verbalizado tornava-se uma fofoca de forma “natural”. Seja atingindo uma pessoa da família Hart em específico ou simplesmente reclamando de terem emprestado suas coisas sem serem convidados, os vizinhos estavam de prontidão para confabularem sobre os preparativos e sempre com questionamentos de como os Hart se sustentavam. Depois de um bom tempo, todo alvoroço é tomado pelo som da música e da chegada dos convidados para a grande festa não anunciada.
Em Nossa Vizinhança nos mostra o que é realmente o cotidiano de um local de casas próximas que, em minha mente, já me remete a uma vila ou cortiço. Essa proximidade das casas, instiga os ouvidos dos vizinhos mais curiosos, onde confabulam sobre a vida alheia, justamente por não terem muitas informações sobre esta. No conto, é possível identificar as situações mais corriqueiras entre vizinhos, desde pensar no que o outro está fazendo, quando pede um pouco de açúcar “emprestado”, até os modos de viver de aparência. Mas apesar disso tudo e mais um pouco, há também formas solidárias e verdadeiras de lidar uns com os outros.
Ao ler este conto, fiz uma viagem no tempo, me recordando da minha infância e adolescência em que morei numa vila e de como o cotidiano era bem parecido com o conto de Alice Dunbar-Nelson. A cada linha, me vinha à memória, situações iguais ou que me remeteram a outras, dessa dinâmica das casas coladas umas nas outras e de como não se podia “esconder” algo dos vizinhos. Seja um bolo, quando o cheiro vai longe e você é “cobrado” por não ter partilhado, ainda mais quando você precisou pedir emprestado um ingrediente que falta para a receita… Seja uma conversa pessoal ou até mesmo uma discussão mais acalorada que não passa despercebido, assim como uma música que não pode ser ouvida num volume mais alto, pois gera reclamações. A simplicidade de Em Nossa Vizinhança provoca uma imersão no leitor de um jeito ou de outro.
Causando uma identificação do leitor para com os personagens e situações que permeiam seu cotidiano, Em Nossa Vizinhança é um conto simples, que diverte, mexe com a lembrança e apresenta as percepções que se têm a respeito dos outros de suas ações. Este foi mais um conto que eu já tinha lido, mas ainda não tinha feito uma resenha sobre por aqui. Recomendo a leitura!
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…