A última resenha de contos traduzidos pelo Clube da Caixa Preta foi sobre um conto bônus da Caixa: A Encruzilhada, de Anita Scott Coleman (1890-1960). Agora, falarei do conto principal, que é Ouço-te A me Chamar, da mesma autora. O conto de 1926 foi traduzido por Victor Lima e pertence à Caixa de fevereiro. Acompanhe as minhas impressões sobre!
Mas antes disso, a sinopse:
Uma mulher recebe uma visita inesperada, numa noite chuvosa. A acolhida que a pessoa recebera, faz com que a mesma confesse à mulher segredos nunca antes revelados, numa melancolia carregada de arrependimentos, dor e tristeza, com um misto de felicidade.
Aggie está em sua casa, apreciando cada detalhe do ambiente aconchegante, seja visual, sonoro e olfativo. Além disso, a sonoridade externa à residência, de uma chuva torrencial caindo, completava todo prazer que sua casa lhe proporcionava. Até que alguém bate à porta, o que lhe causa um certo assombro, dada situação do lado de fora. Ao abrir a porta, uma figura conhecida aparece toda ensopada: era Jennie, a mulher que era a lavadeira e faxineira dela e dos vizinhos. Seu acolhimento oferecido a Jennie, surpreendeu a senhora negra, de pele enrugada e coluna encurvada. Tais atitudes e outros elementos, aos olhos brilhantes de Jennie, elevou Aggie ao patamar de pessoa confiável para contar algo que ninguém sabia até então.
Ouço-te A me Chamar nos apresenta muitas situações e sentimentos fortes, numa confissão repentina, franca e num certo vínculo estabelecido apenas ali. Na sua fala, Jennie expressa sensação de perda, maternidade latente tardia, pobreza, racismo, negação das origens étnicas e a dor que tudo isso, às vezes misturado, lhe causou e ainda causa. Em muitas partes, a personagens impacta não só quem a acolheu, mas também o leitor, no relato de situações pesadas com as quais lidou em sua vida e de como isso lhe causou essa aparência calejada da vida.
Desde que li A Encruzilhada, percebi como a autora Anita Scott Coleman usa e abusa de recursos visuais, descrevendo bem o ambiente e os componentes ali sentidos pela personagem, como o olfato, a audição e o tato. O interessante, por exemplo, é como a ambientação descrita no conto torna-se a causa dos gatilhos na pessoa que foi acolhida, como a forma “inesperadamente humana” de acolhimento feito pela dona da casa, ao lhe aquecer da melhor forma, a sonoridade do ambiente com a música, a paz do cheiro das rosas e sensação de segurança sentida no abrigo que lhe fora cedido.
Ouço-te A me Chamar é um bom conto, apesar de ter me causado um pouco de confusão. Não sei se a minha leitura foi desatenta, dado ao meu cansaço mental recente, mas confesso que tive de retomar a leitura de uma parte do meio do conto para compreender seu final. Ou talvez o conto seja recheado de detalhes no seu clímax, que eu tenha deixado escapar uma informação ou outra. No mais, é uma história muito boa e reflexiva, que recomendo.
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…