Lemos: Jeremias – Alma

Minha primeira Graphic MSP (Mauricio de Sousa Produções) foi Jeremias: Pele. Que quadrinho emocionante! A escrita e o desenho de Rafael Calça e Jefferson Costa, respectivamente, mexeram comigo. Agora, com a leitura de Jeremias: Alma, lançada em 2020, os dois artistas nos apresentam outras situações na vida do menino Jeremias que tornaram esta nova história ainda mais interessante. Quadrinho lido, então aqui estou para falar das minhas impressões a respeito.

Mas antes disso, a sinopse:

Rafael Calça e Jefferson Costa, os vencedores do Prêmio Jabuti 2019, na categoria Histórias em Quadrinhos, retornam ao Jeremias numa trama emocionante sobre ancestralidade, racismo, merecimento e histórias. Sejam elas fictícias ou de vida. O clássico personagem de Mauricio de Sousa ganha mais um capítulo de sua bela e forte releitura.

Tenho lido poucos quadrinhos, confesso. Mas não sei por qual motivo, nesta semana lembrei do Jeremias e resolvi ler Jeremias: Alma. Envolvente do início ao fim, nos mostra a importância da ancestralidade, de conhecer o nosso passado ou, pelo menos tentar, como foi no caso do Jeremias. Só que, mais uma vez, o enredo de Rafael Calça me emociona demais, porque ao ver uma certa angústia em Jeremias em querer descobrir coisas sobre seus avós, bisavós, tataravós e os feitos destes para sua família, eu acabei me vendo nas respostas que minha mãe não tem pra dar e que minha avó e minhas tias-avós não falam muito (ou não gostam de falar, por preferirem esquecer). Essa atitude dos antigos, está nítida na avó materna de Jeremias. As cenas dos dois conversando foram bem potentes pra mim. É importante ressaltar que Jeremias: Alma é uma HQ de fácil leitura e compreensão da mesma, numa linguagem bem direta e impactante.

Na verdade, o quadrinho é impactante por inteiro, onde a imagem também acompanha essa percepção que se tem da escrita. Em alguns quadros onde não há balões de fala, as imagens falam por si, onde o leitor acaba viajando no pensamento junto com Jeremias e compreendendo as questões que o mesmo tem com relação à vida atual e sua ancestralidade, da qual pouco se tem histórias para contar, comparando com as histórias dos familiares italianos do seu amigo Franjinha.

A graphic novel inteira me emocionou, mas o momento no qual mais me identifiquei foi com a mãe de Jeremias, a Carolina. Ela vive um sonho de menina, pelo qual ela batalhou muito para se concretizar, mas seus questionamentos internos, quanto ao merecimento de suas conquistas, a cada sorriso que dói por dentro, “doí na alma”. É um sentimento que também tenho e, assim como a personagem, eu também não sei explicar de onde vem. Mas é doloroso e corrói.

Jeremias: Alma é um quadrinho extremamente necessário, assim como foi Jeremias: Pele. As situações com as quais Jeremias se depara, como até mesmo um chocante blackface feito por um conhecido, amargurado pelo posicionamento firme, crítico e inteligente de Jeremias, mostra o quão importante é trazer essas questões para os jovens (e também adultos), a fim de tentar incutir nas pessoas uma sensibilidade, empatia e respeito pelas dores e marcas internas no povo preto, que só nós é que sentimos, mesmo que não saibamos expressar com palavras. Mas uma vez, Calça e Costa conseguiram me emocionar.