Na escola onde trabalho, ganhei o rótulo da “tia que passa filmes legais e que ninguém tinha visto antes” HAHAHAHAHAHAHA. Isso acontece pelo simples fato de apresentar à minha turma algumas animações do Studio Ghibli. Comecei com Meu Amigo Totoro, depois foi A Viagem de Chihiro, O Mundo dos Pequeninos e, o mais recente As Memórias de Marnie. É impressionante o fascínio que os alunos têm pelo Totoro e, assim que eles o vêem naquela tela azul, soltam uns gritos e comentam com os desavisados que “esse filme vai ser muito bom, porque é dos ‘filmes do Totoro'”.
Tem uma “magia” nesses filmes que impressiona qualquer adulto. Os demais funcionários da escola sempre comentam que só os “MEUS filmes funcionam” na escola, tanto que mesmo com o sinal da saída soando, as crianças imploram para não tirar o filme. Então, hoje, falarei da magia que existe em As Memórias de Marnie, filme de 2015, adaptado do livro When Marnie Was There (esse é o mesmo nome do filme em inglês), escrito pela britânica Joan G. Robinson, em 1967. Vamos lá?!
Antes disso, vamos espiar esta pequenina sinopse:
Anna, uma menina solitária e curiosa, decide explorar uma velha mansão abandonada e conhece uma garota loira misteriosa que somente ela consegue ver.
Como não li o romance britânico do qual a animação foi adaptada, não será possível falar sobre fidelidade à obra de origem e tal. Porém, quando assisti a animação me deu a impressão de que o a história escrita por Joan viesse de algo pessoal, alguma experiência vivida na infância. BINGO! As situações pelas quais Anna passa no filme, foram as próprias experiências da escritora. Mas como eu senti isso, não posso dizer, caro(a) leitor(a), pois seria um baita de um spoiler e isso é proibido nos covis deste site!
Contudo, por mais que a sinopse não te fale muito, vou tentar fazer um breve resumo: Anna é uma menina de uns doze anos que foi adotada, ainda bem pequena, por um casal. Ela tem dificuldade de fazer amizades e, na maioria das vezes, está sozinha, desenhando, maravilhosamente bem, por sinal. Devido à uma doença respiratória, sua tia (ela não a chama de mãe) envia a menina, para a casa de parentes, numa ilha chamada Hokkaido, para que ela possa ter uma melhor recuperação, longe da poluição de onde vive, em Sapporo. Lá, Anna se encanta por uma velha mansão e, consequentemente, conhece uma misteriosa menina. Mas apenas Anna consegue vê-la.
É complicado falar das personagens, pois acredito que possa tirar a tal magia da animação, como falei no início do texto. Nessa animação, senti que o que nos prende à trama é todo o mistério de descobrir quem é Marnie. É algo que o roteiro de Hiromasa Yonebayashi foi capaz de proporcionar com perfeição. Anna é uma menina muito séria, introvertida, cheia de complexos que incentiva o adulto ou um adolescente a ficar imóvel diante da tela, tentando entender os motivos de determinadas reações, relações, dilemas. Isso foi algo que me deixou com um pé atrás, temendo que meus alunos, que são crianças, não se apegassem à personagem e dispersassem, ou que ainda não entendessem o plot twist e a mensagem da animação. Ah, “tia Zabel”… Eu os subestimei e quebrei a cara! As crianças amaram o filme e ainda rolou uma discussão nos minutos finais da aula, sobre quem era Marnie, a mensagem do filme, entre outros papos, que iniciou de forma natural, depois de um estranho silêncio, quebrado por um “Caraca! Que história!”. Isso sim é ver a magia acontecer diante dos olhos, xará!
Outra coisa que sempre encanta é a própria arte, né, os traços e as cores. Por mais que o romance de Joan G. Robinson seja ambientado em Burnham Overy, na Inglaterra, à animação foi dada a ambientação do Japão, nos lugares já citados. E isso SEMPRE encanta e entretém meus alunos, ao passo que lembra a paisagem simples e campestre à qual eles vivem: grandes campos, pessoas colhendo alimentos da orta, preparando-os em panelas e fogões simples, mesmo que, no fim das contas, o alimento não tenha nada a ver com a nossa cultura, o que não passa despercebido, pois eles sempre perguntam. Outra coisa que é marcante e eu adoro: a personagem feminina em desenvolvimento. As meninas se sentem representadas por uma figura que não é muito sensível, como costuma-se a ver e, os meninos, se surpreendem com figuras de meninas destemidas e fortes em sua personalidade.
As Memórias de Marnie não é um filme propriamente para crianças, visto que tive receio de apresentá-los às mesmas. É um filme com uma protagonista que sim, pode estar envolta a uma fantasia, mas que tem toda uma complexidade na persona, não apenas dela, e já adianto que há “explosões” de fortes emoções dos personagens, coisa séria mesmo. O dia em que você desejar assistir uma animação de qualidade e que tenha uma problemática um pouco mais séria, com um tom de mistério e um baita plot, As Memórias de Marnie é o nome!
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…