Uma viagem louca e apaixonante. Não sei se essas palavras são suficientes para definir A Viagem de Chihiro, animação de 2001, do Studio Ghibli. Lembro que, quando assisti pela primeira vez, fiquei muito confusa e minhas reações durante o filme eram de como poderiam fazer algo tão maluco. Mas isso não me impediu de me apaixonar por ele, assim como foi com Meu Amigo Totoro, de sentir pela Chihiro e pelo Haku o mesmo carinho que senti por Mei e Satsuki.
Coragem, força e esperança. A Viagem Chihiro tem isso e muito mais. Vem que eu te conto!
Antes de embarcar nessa viagem, vamos à sinopse:
Chihiro é uma garota mimada e voluntariosa, que se vê numa situação infeliz quando seus pais anunciam a mudança para uma cidade do interior, obrigando-a a abandonar seus amigos e a escola que tanto gostava. Durante a viagem, eles se perdem, e vão parar em outro mundo, o mundo dos deuses. Chihiro agora deverá amadurecer, se quiser salvar seus pais e voltar a ver seu mundo.
Se você tem procurado por um filme que agrade a todos de sua família, garanto que A Viagem Chihiro te proporcionará isso. A animação te cativa desde a primeira imagem, em que aparecem flores que, se não me engano, tratam-se de cerejeiras, flores de origem asiática, mais precisamente do Japão. Contendo mais de trezentas variedades, as cerejeiras têm significados lindos e fortes, como amor, a esperança, a felicidade, a renovação e a exaltação da beleza feminina. Por falar nisso, mais uma vez, o estúdio e, no caso, o diretor Hayao Miyazaki, evidencia o poder da figura feminina nas animações.
Os personagens desta história e o mundo ao redor deles estão em constantes mudanças. A animação aborda muito e muito bem o processo de evolução dos personagens, seja ela visível aos olhos, como a metamorfose ou evolução interna, como a construção de identidade e o processo de dualidade da mesma, que ocorre na passagem da infância para a adolescência. Outra coisa que mudanças podem proporcionar é o esquecimento. Durante o filme, Chihiro precisa sempre se lembrar de quem ela realmente é, sempre recobrando lembranças, pois o mundo em que se encontra no momento, pode causar danos às suas lembranças. O filme aborda, com maestria, essa crítica de como o mundo nos influencia, chegando ao ponto de esquecermos nossas raízes, quem realmente somos, nos distanciando do verdadeiro eu, onde pode-se deixar de existir.
Outros personagens mexem muito com o imaginário infantil. São seres que vivem nesse outro mundo onde Chihiro se vê presa e com os quais a menina vai se relacionando, ao longo de sua jornada. Alguns têm uma aparência que lembra os humanos, como o menino Haku e a Lin; outros têm alguma parte do corpo ou o corpo todo grande, como Yubaba e seu filho Boh ou então são completamente diferentes, como o Kamaji e o estranho Kaonachi.
Em A Viagem Chihiro, Hayao Miyazaki também deixa uma evidente crítica ao capitalismo, ao consumo excessivo, de alimentos às riquezas, como o ouro. A gula e a avareza são apresentadas na animação, propondo uma reflexão de como o ser humano pode de deixar ser corrompido pelas riquezas, chegando ao ponto de desviar do foco inicial, esquecer do que mais lhe era quisto anteriormente. Cada ponto de A Viagem Chihiro é cuidadoso ao evidenciar tais críticas, mas é impressionante como tudo consegue ser implícito e explícito ao mesmo tempo. Mas pode ser que eu veja dessa forma, pelo erro que continuo cometendo, mesmo depois de mais de dez anos lecionando: subestimar a mente das crianças (meus alunos).
Por falar neles, uma das principais coisas que os cativam nas animações do Studio Ghibli é a arte, a ambientação. eles sempre se identificam com a paisagem campestre, mesmo que neste filme, o que chama mais atenção são os elementos que compõem o imaginário, naquele mundo onde o impossível torna-se possível.
Com mensagens de esperança, amor, renovação e coragem, A Viagem Chihiro é um ótimo filme para assistir com toda família nesses tempos em que precisamos ocupar as nossas mentes, enquanto aguardamos por dias melhores. Só tenho um bom aviso: se você tem criança em casa, pode ter certeza que eles irão pedir para assistir essa animação novamente. E garanto que, quando o pedido for feito, você irá concordar em assistir de novo também.
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…