Lemos: Visão – Eu Também Serei Salvo Pelo Amor

Finalmente! Esperar pela conclusão dessa história foi brabeza! É o que acontece quando a gente gosta muito de um roteiro e quer acompanhá-lo: a ansiedade só vai aumentando. Foi assim com o roteiro de Tom King, tão aclamado pelos público e pela crítica e vencedor do prêmio Eisner em 2017 (a história foi lançada em 2016), Visão – Eu Também Serei Salvo Pelo Amor.

Pensei muito a respeito de pôr a sinopse ou não, pois poderia ser caracterizado como spoiler. Mas… Eu preciso apresentar a você, leitor (que já deve ter lido a primeira), a segunda parte da história. Caso você, leitor que não leu, queira parar por aqui, ok, mas também sinta-se a vontade para prosseguir. Então, vamos à sinopse:

“ERA UMA VEZ um robô que se apaixonou. E então algumas coisas  bem ruins aconteceram. Mas a história do Visão com a Feiticeira Escarlate era apenas o começo. Agora, o Visão construiu uma nova vida para si — e uma nova família. Porém, embora toda família tenha sua cota de esqueletos no armário, para os Visões esses esqueletos são reais. E agora a fachada da família está ruindo. Os Vingadores sabem a verdade. Que a esposa do Visão cometeu assassinato. Que ele mentiu para protegê-la. E que essa mentira será seguida por outra mentira, mortes se acumularão sobre outras mortes. Os Vingadores sabem que precisam agir. A tragédia é iminente e colocará o sintozoide vingador num confronto devastador contra os Heróis Mais Poderosos da Terra. Ninguém está a salvo.”

Esta é a segunda (e última) parte da história que a Panini Comics lança por aqui. Dividida em dois encadernados de capa dura (meu bol$o agradece…um pouco…), a HQ veio com um título que não agradou muito alguns fãs da história, pois na primeira parte, Visão – Pouco Pior Que Um Homem, fazia uma referência à peça “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare, leitura pela qual Vin, filho de Visão é fissurado. O título original é Little Better Than Beast, traduzido livremente como “Pouco Melhor Que Uma Besta”, o que eu também acharia melhor, até porque é parte da citação de Shakespeare citada por Vin neste quadrinho.

Visão – Eu Também Serei Salvo Pelo Amor inicia com uma breve história do conturbado relacionamento entre Visão e a Wanda Maximoff, do início ao fim.

O roteiro King manteve-se intacto em sua essência, com momentos reflexivos sobre a vida, sobre o ser, sobre viver em família, porém com um diferencial: alguém chega à casa dos Visões. Victor Mancha é filho de Ultron, irmão de Visão, que luta contra o seu destino, ao qual é o real motivo de ter sido criado. Ele tem a aparência humana, não é avermelhado como seus parentes.

Tudo se passa em torno desta visita, que traz grandes revelações e tranformações na vida da família de sintozoides. O impacto do início da história ainda se faz presente na segunda parte. Cada página tem uma revelação, uma reflexão, algo que surpreende o leitor, prendendo-o na trama cada vez mais.

Tom King foi um gênio ao não deixar a leitura massante, mesmo que haja uma constante narração dos fatos, junto aos diálogos, pois as imagens falavam por si.

A arte de Gabriel Hernandez Salta, juntamente, com Michael Walsh foi extremamente necessária, uma vez que este último, ficou encarregado de desenhar o passado de Visão e Wanda, com traços mais leves, finos, por vezes, aparentando um esboço, algo inacabado e com sombreamento antigo, obscuro. Isso “casou” perfeitamente com o momento, sendo agregado com as cores de Jordie Bellaire.

Visão – Eu Também Serei Salvo Pelo Amor honra o início da história. É uma história rica em conteúdo, reflexivo e cultural. Não é a toa que tornou-se leitura obrigatória numa universidade da Califórnia. Essa é, realmente, segundo Ta-Nehisi Coates (autor da também recente e aclamada HQ do Pantera Negra), “a melhor série em quadrinhos no momento”.

“— Não gosta do jovem alemão, o sobrinho do Duque da Saxônia? 

 — Muito repugnante de manhã quando está sóbrio… E ainda mais repugnante de tarde quando está bêbado. No seu melhor é um pouco pior que  um homem… E no seu pior é um pouco melhor que uma besta. E o maior dos perigos que já corri! Espero poder fazer qualquer coisa para me ver livre dele.” – O Mercador de Veneza. William Shakespeare. Tradução de Helena Barbas, 2002.