Na melhor das hipóteses, a velhice será uma realidade para nós. Entretanto, não sabemos o que nos aguarda quando chegarmos (e se) na dita melhor idade… Se somos saudáveis, quando lá estivermos, podemos ser “contemplados” com complicações de saúde, dependência de terceiros, abando e como consequência disso tudo, um enorme sentimento de inutilidade. Não que eu desejo isso para você, caro leitor! Mas essas são as questões de Rugas, um quadrinho do espanhol Paco Roca.
Mas antes das minhas impressões, vamos conhecer a sinopse:
Internado num asilo para idosos porque sofre de Alzheimer, Emílio encara a vida comunitária como uma prova difícil de se vencer. Mas ele aceita rapidamente o seu novo ambiente e decide lutar para escapar à decadência que sua doença o levará.
Para o autor, a comunidade do ser-humano lembra uma biblioteca, na qual os livros se empilham em montanhas de papel amarelado, povoadas de sonhos e fantasias.
O desgaste de toda uma vida os cobre de rugas, e alguns veem as letras das suas páginas se apagarem, folha após folha, até ficarem totalmente brancas. Apesar disso as emoções mais intensas sobrevivem, preservadas como um tesouro escondido numa ilha distante.
O que mais me chamou a atenção é como a trama deu um tiro certeiro no meu peito. Quando a narrativa foi ilustrando a internação de Emílio, senti um aperto no coração… Parecia que eu já tinha vivido em parte daquela história, mas não, porque eu nunca fui a um asilo e tampouco tive algum parente em um. Minha proximidade com o enredo é que assim como Emílio, meu avô teve Alzheimer, mas diferente do protagonista, ele morou próximo aos filhos até os seus últimos dias. Entretanto, a evolução do quadro de Emílio foi super bem detalhada e próxima do real… Senti saudades do meu velho…
Mas nem tudo é tristeza, porque a trama traz o humor utilizando personagens que representam os clássicos esteriótipos da terceira idade. O senhor saudoso, a senhora preocupada com a alimentação do neto, o senhor de sexualidade aflorada, etc. Além disso, a narrativa utiliza o espaço do asilo para satirizar os hábitos da instituição. Vou te falar que há uma cena onde é realizado um bingo que é impagável! Chorei de rir!
Além do dilema de Emílio e do humor relacionado às questões da velhice, o quadrinho traz como tema o abandono na terceira idade. Miguel (personagem que acompanha Emílio durante toda a história) se encarrega de contar todo o abandono que os integrantes do asilo estão sujeitos, e a partir desses diálogos, ele traz falas que são um soco no estômago.
De história comovente e com uma bela arte, Rugas me trouxe inúmeras reflexões e um gigantesca saudade do meu vô… Ao ilustrar as várias faces do “comportamento da terceira idade”, o quadrinho faz um trabalho didático, porque mostra que o convívio com idosos nem sempre é fácil, mas que os mesmos são sujeitos e o abandono podem os atravessar de doloridas formas. Recomendo muito a leitura e agradeço ao meu amigo Aramis (do quadro_solto) pela indicação.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.