Hoje em dia somos bombardeados por informações o tempo inteiro. Já pensou se estas crescessem a ponto de não haver mais servidores para armazenar? Logo, seria necessário apagar algumas coisas para dar espaço a outras. E se essas outras fossem trabalhos artísticos e registros importantes para a sociedade? Esta é a problemática de Preferência do Sistema, quadrinho que li e vou compartilhar as minhas impressões com vocês. Bora?
Mas antes de armazenar os dados, sinopse:
Em 2120, o recurso essencial é a memória virtual. Com milhões de giga consumidos pelas redes sociais, não há espaço para mais dados. Quem decide o que apagar são os “profetas”, uma espécie de polícia que define o destino de milhares de obras culturais. Yves, um arquivista, tem a tarefa de tentar defender certos dados, cuja perda considera dramática para o patrimônio da humanidade. Mas está ficando cada vez mais difícil frear a destruição das informações e ele não suporta a ideia de ver obras-primas como 2001: Uma Odisseia no Espaço desaparecerem para sempre. Para salvá-los do esquecimento, Yves decide armazenar ilegalmente esses dados em seu robô doméstico, Mikki, que também carrega sua filha ainda não nascida. Porém, as coisas não são tão simples: as autoridades percebem suas atividades clandestinas e vão atrás dele.
O primeiro contato com a obra nos faz ter a sensação de que já vimos aquilo antes. Afinal, temos um futuro distópico, onde um órgão regulador decide qual informação deve ou não ser armazenada. Contudo, o que difere Preferência do Sistema de outras obras é que em meio àquele universo frio, há personagens que exalam os sentimentos que faltam naquele cotidiano.
Falando assim, parece não ser tão diferente, não é mesmo? Porém, achei realmente distinto, pois a ação é quase nula no quadrinho. Praticamente todos os embates não são físicos, estes partem das reflexões e dos diálogos presentes em cada página. Tudo nos é apresentado com uma arte certeira, que traz muita sutileza e, ao mesmo tempo, a potência necessária para nos impactar.
Tal aspecto foi fundamental na minha identificação com a HQ, porque foi fácil me ver naquela atividade laboral, onde os ideais são engolidos pela burocracia. Onde prioriza-se banalidades em detrimento de coisas importantes. A narrativa trata destas questões com a capacidade de nos trazer otimismo. Como se fosse um convite a sermos a diferença em nossos fazeres.
Por fim, destaco como Ugo Bienvenu foi genial ao descrever um futuro que não nos parece tão distante. A concepção dos elementos, cenários, tecnologia, etc… soa futurista e próxima ao mesmo tempo. Pelo fato daquele cotidiano ser tão familiar, me levou a pensar como já vivemos em um ambiente cyberpunk. O que nos falta é a estética.
Com uma narrativa emocionante e com boas reviravoltas, Preferência do Sistema é um quadrinho muito bom para refletir sobre as nossas relações e vivências na era da informação. Ao terminar fiquei com aquele sabor doce da esperança e com a seguinte pergunta na cabeça: se eu tivesse que salvar alguma obra, qual seria? Enfim, sigo sem uma resposta, mas recomendo muito a leitura.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.