Lemos: O Escultor

“Dar a vida pela arte”! Certamente você já ouviu isso por aí (isso se não falou), mesmo que se não seja ligado às artes. Por mais que esta frase permita outras interpretações, David a leva ao pé da letra e faz um pacto pra lá de sinistro em nome de sua paixão. Mas será que vale a pena entregar tudo pelos seus sonhos/paixões? Scott McCloud coloca essas e outras questões em O Escultor, sua belíssima graphic novel, da qual irei fazer alguns comentários.

Mas primeiro, vamos entender melhor essa história:

David vai dar sua vida pela arte. Literalmente. Após um acordo com a Morte, o jovem escultor obtém seu desejo de infância: esculpir o que quiser com as mãos nuas. Mas agora que só lhe restam 200 dias de vida, decidir o que criar é mais difícil do que ele pensava. Descobrir o amor de sua vida na penúltima hora não ajuda em nada. Uma história sobre paixão que supera os limites da razão; sobre o compasso frenético e desajeitado do amor jovem; e um retrato belíssimo das ruas da cidade mais fantástica do mundo. Daqueles momentos pequenos, queridos e humanos da vida cotidiana… e das forças enormes que revolvem logo abaixo da superfície. Scott McCloud já escreveu sobre como os quadrinhos funcionam. Agora ele lança-se na ficção – emocionante, divertida e inesquecível.

O primeiro aspecto que me chamou a atenção é que no diálogo entre vida e arte, a trama me trouxe a seguinte questão: “o que é arte?”. Senti que ela era respondida aos poucos, começando pela crítica aos bastidores do mercado da arte e como ele pode ser nocivo aos artistas. Depois quando trata dos anseios do artista em busca da grande obra que o colocaria na eternidade.

Porém, por traz de tudo isso há vida! E a narrativa transmite muito sentimento em uma linguagem “biográfica” sobre David. Em vários diálogos (principalmente os com a morte) Scott colocou inúmeras reflexões existenciais em minha mente. As vezes tinha que ler continuamente, por outras, parar e respirar fundo. Sorri e me emocionei inúmeras vezes!

Quanto ao aspecto artístico, a graphic novel transborda metalinguagem com muita elegância. Ao tratar da arte, ela se constrói como uma grande obra de arte com seus tons (azul, preto e branco), traços, personagens e da construção de uma Nova Iroque, que me pareceu tão íntima.

Se eu já li algum quadrinho tão intenso quanto O Escultor, sinceramente não lembro. Gostaria muito de escrever uma resenha enorme sobre, mas a política de não spoiler reina por aqui. Só sei que fui fortemente atingido pela história e recomendo que você a leia também.