Nem todo herói usa capa. Edna Moda já nos ensinou muito bem que capa só atrapalha, portanto: “NADA DE CAPA!”. Mas uma máscara, convenhamos que é necessário, pois ter uma identidade secreta é fundamental quando se quer combater o crime. Há os que fazem o completo oposto, usando um óculos para ser um civil comum, mas fica de cara limpa quando vai colocar criminosos em seu devido lugar; uns colocam um elmo de ferro ou de um metal raro e há os que associam as máscaras a animais, como gato, morcego, aranha, formiga, vespa… Mas nada impede o improviso e, por isso, até uma máscara de gás lacrimogêneo tá valendo e, convenhamos que é bem mais útil que todas as anteriores. Esse é brasileiro e ainda combate os maiores bandidos!
O Doutrinador é o justiceiro tupiniquim da HQ que ganhou as telas do cinema, em 2018, com o filme homônimo, do qual já falamos por aqui. Agora, é a vez de falar da obra que deu origem ao filme. Então, vamos de sinopse:
“Um rebelde carismático ou apenas um radical combatendo a corrupção? Desde sua estreia nas redes sociais, o Doutrinador é o genuíno e polêmico anti-herói brasileiro, que ganhou as manchetes do mundo e invadiu as telas de cinema, na primeira adaptação de uma HQ brasileira de ação. Amado e odiado, o vigilante é um espírito que tudo nega, mas é o bem e o mal, o herói e o bandido. Ele sonhou limpar a pátria da corrupção, lançando chamas para iluminar as trevas. Ele ousou dar uma resposta e ela é implacável. Talvez, ele não seja o herói que precisamos, mas pode ser aquele que merecemos.”
Essa HQ que li, lançada pela editora REDBOX contém as três edições já lançadas do anti-herói criado por Luciano Cunha, de roteiro conjunto a Gabriel Wainer. Dentre essas, duas são de co-autoria com Marcelo Yuka, chamada Dark Web. Gente, é um enredo muito imersivo! Muitos personagens, sejam figuras públicas e famosas, políticos, apresentadores de TV, são claramente referências à nossa realidade. Personagens que ocupam cargos políticos têm as mesmas iniciais de certos indivíduos bem conhecidos (infelizmente) por nós. Sem contar na ambientação, que também faz o leitor se identificar cada vez mais com a trama.
Isso, somado à coisas que falarei daqui a pouco, dão muito mais prazer em ler O Doutrinador, pois ali o leitor meio que deposita no personagem um tom de vingador/ justiceiro do povo e, particularmente, eu vibrava com determinadas situações. Peraí, ao contrário do que parece, eu não vibro com a morte alheia, mas os diálogos das figuras políticas, antes da ação do Doutrinador, incita o leitor a ter esse tipo de sentimento eufórico. É como se houvesse um revival, um déjà vu e isso, não sei se propositalmente, me atingiu, fazendo com que eu desse total razão às ações do Doutrinador.
Com violência explícita, O Doutrinador choca com diálogos e cenas pesadas. Dos diálogos entre políticos, eu sentia nojo e raiva ao mesmo tempo, diálogos estes que vão de transações ilícitas e autorizações de execução a comentários machistas. Há cenas de nudez (feminina, né), em que mulheres entram em contato físico, nítida e exclusivamente, para satisfazer as fantasias das figuras corruptas. Cenas explícitas de tiros, flechadas, início de estupro, tortura… É um quadrinho que quer deixar evidente como são as coisas (mesmo a gente já sabendo ou imaginando algumas) nesse meio político no Brasil.
Tudo isso, com desenhos e coloração do próprio Luciano Cunha, que utiliza traços grossos, que demarcam muito bem expressões faciais e movimentações dos personagens, com ar realista. Isso se une à cores fechadas, mas que não deixa de ser fortes e vivas, pois se unem ao brilho e ao sombreado, usados na dose certa, sem deixar a HQ muito escura, tornando a leitura de imagens muito agradável.
Ler O Doutrinador é como lavar a alma. A imersão é inevitável. O sentimento de ser vingado, diante da situação política brasileira, por um cara do povo, é extremamente sedutor. Há bastante coisa desse quadrinho no filme, mas vale muito a pena ler essa HQ brazuca, com um personagem de peso feito esse. Luciano Cunha é profissional de uma competência incrível!
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…