Lemos: Jeremias – Pele

Os quadrinhos do Mauricio de Sousa sempre foram os mais acessíveis. Lembro-me que os únicos gibis que lia e tinha condições de ler, eram os da Turma da Mônica. Os mesmos protagonistas e alguns personagens coadjuvantes, davam um diferencial, vez ou outra, nas histórias. Estes eram sempre aqueles que estavam lá como representante de uma etnia, condições físicas… Um desses coadjuvantes era o Jeremias.

É até meio estranho chamá-lo de coadjuvante, porque o Jeremias foi um dos primeiros personagens criados pelo Mauricio de Sousa. Mas, como o próprio relata, no prefácio da graphic novel da qual vamos falar, nunca foi dado um gibi ao Jeremias como protagonista que, segundo o Maurício, foi uma “injustiça histórica”.

Pois o erro do passado está sendo perdoado (tá bom, “tio” Mauricio) com a graphic novel Jeremias – Pele. Esta é a 18ª do selo Graphic MSP (Graphic Mauricio de Sousa Produções), que desde 2012 publica um novo estilo de enredo, mais voltado para jovens e adultos, para esses personagens que fizeram parte da nossa infância.
 Jeremias – Pele as questões sociais estão lá, em vez da ambientação ingênua e tranquila da Rua do Limoeiro e arredores. Jerê é um menino tranquilo e estudioso. Tira as melhores notas da sala. Vive com seus pais, que são muito presentes na vida do filho, mesmo com o trabalho. Um trabalho sobre profissões deixa Jerê meio abalado. O monstro do Racismo invade a vida de uma criança que, até então, não percebia que a cor de sua pele lhe causaria os piores pesadelos.
Com um roteiro forte e brilhante, Rafael Calça nos transmite um misto de emoções, juntamente com os desenhos super expressivos de Jefferson Costa. 
É nítido, a cada página, o brilho nos olhos do Jerê (sim, sou amiga íntima já) e como esse mesmo brilho vai se apagando com o preconceito racial vivido por ele. A imersão de sentimentos a cada palavra proferida pelos personagens, o peso dos diálogos é impressionante. Foi impossível me conter a cada página lida dentro de um ônibus (arriscando a visão, né, Bel…) lotado: Suspiros, sem acreditar no que eu estava lendo; levar a mão ao peito, por sentir o coração doer com os diálogos e cenas; falar sozinha (ou com o personagem) e dar um soco no quadrinho, num momento “Pah!”.

É um quadrinho lindo e que deixa o leitor (pelo menos eu senti) com a sensação de quero mais. É uma história forte e bela, mas que tem a sua fragilidade e horror marcadas pelo racismo velado e explícito. Apesar de Jeremias ser um personagem de nossa infância e Calça e Costa terem nos dado um personagem realista, diferente do que é visto na Turma da Mônica, eles nos fazem voltar à nossa infância e nos remeter àquelas situações de racismo vividas ou presenciadas por nós (e que foram vividas por eles), o que é de mais interessante nessa graphic novel.

Obrigada a Rafael Calça e a Jefferson Costa! E, caro leitor,  Jeremias – Pele está recomendadíssima a ti!