Assistimos: Vidro

E se existissem pessoas super-poderosas/habilidosas entre nós? E se elas pudessem ser heróis ou vilões como nos quadrinhos? Mas e se, na realidade, os ditos poderosos sofressem algum delírio de grandeza? Dentre todas essas questões, chegamos à Vidro, o último da trilogia construída por Shyamalan. Se eu gostei? Bora de resenha!

Mas antes, a sinopse: “Após a conclusão de Fragmentado (2017), Kevin Crumb (James McAvoy), o homem com 24 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), o herói de Corpo Fechado (2000). O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price (Samuel L. Jackson), que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois“.

O filme inicia como uma sequência de Corpo Fechado que precisa se amarrar com Fragmentado. Lá está David Dunn fazendo o seu trabalho de vigilante: batendo nos vacilões e perseguindo pistas para encontrar Kevin. Quando o encontro finalmente ocorre, a luta entre ambos pode não ser o esperado para o espectador que anseia um filme de heróis nos “moldes marvel” da coisa. Porém, posteriormente, o longa acaba por explicar o uso dessa ação mais comedida e assume uma identidade incrível.

Essa identidade surge com a entrada da psiquiatra Ellie Staple (Sarah Paulson) que, na dinâmica com os personagens principais, afirma que os três não têm nada de super e simplesmente sofrem de um delírio de grandeza. Os argumentos da personagem põe em dúvida tudo o que havia sido construído até agora na franquia e você deve se perguntar: mas como assim mano? Como duvidar do final de Fragmentado? Os argumentos são bons caro(a) leitor(a), muito bem encaixado no roteiro.

Além dos argumentos de Staple, os recursos técnicos do filme ajudam esse clima de dúvida/suspense se consolidar na cabeça do espectador. Lembra que eu disse ainda agora que a batalha entre Dunn e Crumb não é nada fantástica para um filme de herói? Não há nada pirotécnico nesse embate e as câmeras estão muito mais focadas nas expressões dos personagens. Depois dos argumentos, eu me vi lembrando da luta e pensando: “mas será?”. E a resposta? Tá no filme! Nada de spoilers, consagrado(a).

Saindo um pouco da problemática do roteiro, me vejo na obrigação de falar das atuações. Se em Fragmentado James McAvoy dá uma aula, em Vidro ele brilha mais ainda! A “facilidade” que ele passa de personalidade para outra é admirável e o fato de quase não ter cortes nessas cenas, mostra todo o seu potencial de atuação. Além dele, Samuel L. Jackson também está espetacular com o seu personagem que, inicialmente, está frágil/despedaçado como um vidro, mas que, assim como seu pseudônimo, se mostra letal/cortante ao criar  um “roteiro” digno de palmas. Afinal, o longa leva seu nome.

Passeando pelos gêneros drama, suspense e super-herói, Vidro termina a trilogia de Shyamalan de forma coesa e esplêndida. A conclusão chega 19 anos depois, mas não poderia vir em melhor hora, porque em meio a tantos filmes de heróis, nada como um contraponto capaz de mostrar as possibilidades que o gênero pode chegar.