Assistimos: ReMastered – As Duas Mortes de Sam Cooke


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On 7 de agosto de 2020
Last modified:7 de agosto de 2020

Summary:

Sam Cooke é o nome de um baita cantor que passava um pouco despercebo por mim. Isso, quando ele estava nas listas dos anos 50 e 60 de aplicativos de música, em meio a outros nomes, dos quais eu escutava com mais frequência (e desde a infância). Mas, Bring It On Home To Me, dificilmente, passa despercebida, por se tratar de uma das minhas músicas preferidas. Ela também embalou um momento romântico, em Guardiões da Galáxia Vol.2, entre Gamora e Peter Quill, em que este apresentava a música dizendo "Esse é Sam Cooke, o maior cantor da Terra de todos os tempos".

Sam Cooke é o nome de um baita cantor que passava um pouco despercebo por mim. Isso, quando ele estava nas listas dos anos 50 e 60 de aplicativos de música, em meio a outros nomes, dos quais eu escutava com mais frequência (e desde a infância). Mas, Bring It On Home To Me, dificilmente, passa despercebida, por se tratar de uma das minhas músicas preferidas. Ela também embalou um momento romântico, em Guardiões da Galáxia Vol.2, entre Gamora e Peter Quill, em que este apresentava a música dizendo “Esse é Sam Cooke, o maior cantor da Terra de todos os tempos”.

E ele tem razão. Sam Cooke era gigante, mas eu não sabia o quanto. Foi através do documentário ReMastered – As Duas Mortes de Sam Cooke que descobri o motivo de Quill dizer isso, mas também descobri os motivos pelos quais eu ainda não sabia. O título do documentário me intrigou bastante: Por que duas mortes? Vem que eu te conto, mas só um pouco, pois o esquema aqui é sem spoiler.

Mas antes, vamos repassar a sinopse:

A voz de Sam Cooke o tornou uma estrela do soul, mas suas opiniões sinceras sobre os direitos civis podem ter contribuído para sua morte aos 33 anos.

Você, provavelmente, já leu aqui no Torrada o texto sobre a vida do músico Robert Johnson, o cara que deu origem ao rock. A lenda de que ele vendeu a alma ao diabo na encruzilhada, por ele ter começado a tocar tão bem em pouco tempo, apesar de o documentário ter deixado em aberto essa “possibilidade”, é, na minha opinião, um indício de como a imagem de ser capaz de crescer na vida, aprender algo, ser inteligente, dificilmente é atrelada ao negro pela sociedade. E, consequentemente, eles têm seus grandes feitos apagados de alguma forma.

Assim foi com Sam Cooke, mas de alguma forma, a história dele mexeu demais comigo. Um homem corajoso e visionário, Samuel Cook cantava em um grupo gospel em Los Angeles, quando se desligou deste e seguiu carreira solo, e decidiu pôr a letra “E” no final do sobrenome, porque achou que não ia ficar legal (cook é cozinheiro em inglês). Sua carreira deslanchou e Sam começou a ser chamado de “O Rei do Soul”, além de ter ganhado vários prêmios, inclusive com a minha música preferida.

O músico também tornou-se um grande empresário, logo após tomar o controle de sua carreira musical, chegando a ser um dos dois sócios da gravadora SAR, que balançou as estruturas da indústria fonográfica. Na vida pessoal, Sam também foi uma pessoa realizada, casando-se com um amor dos tempos de escola, com quem teve filhos.

Uma parte importante mostrada em ReMastered – As Duas Mortes de Sam Cooke e que eu desconhecia totalmente, foram as grandes e verdadeiras amizades que Cooke estreitou com Muhammad Ali, que o apresentou a Malcolm X. Os três, junto com o jogador de futebol americano Jim Brown, hoje com 84 anos, lideravam grandes reuniões, com a ótima intenção de trazer mudanças para a comunidade preta estadunidense. Isso começou a despertar a atenção de quem estava de olho nas ações do ativista dos direitos humanos, Malcolm X.

Tudo estava indo bem, até que Sam descobriu que foi enganado na parte profissional, onde se aproveitaram de um momento delicado e pessoal pelo qual ele passava: uma perda repentina e dolorosa na família. Isso tudo isso junto, levou Sam a sair mais para beber socialmente, com amigos. Foi numa dessas noites que ele, após conhecer uma mulher e sair com ela, acabou resultando na sua morte. A notícia, que pegou a todos de surpresa e causou revolta na comunidade negra, envolve mistérios, dos quais a polícia não se deu o trabalho de investigar a fundo, o que seria bem diferente se fosse com um músico branco.

Diante disso, o título do documentário torna-se totalmente compreensível e, juntamente, o meu incômodo, diante da história de Sam Cooke. Os mistérios e o descaso com que sua morte foi tratada é o mesmo que acontece com os negros até hoje. O que ocorreu com Cooke foi um apagamento não só físico, mas também de seu feitos no âmbito musical, empresarial e da sua merecida exaltação como Sam Cooke, o Rei do Soul. Recomendo fortemente este documentário e, é claro, as obras de Sam Cooke, que tinha um esperançar de mudança, como no trecho de A Change is Gonna Come, que diz muito sobre o sentimento de muitos ainda hoje:

“(…)It’s been a long, a long time coming but I know

A change gon’ come oh yes it will

It’s been too hard living but I’m afraid to die

Cuz I don’t know what’s up there beyond the sky

It’s been a long, a long time coming but I know

A change gon’ come oh yes it will(…)”