Assistimos: Parasita

Review of: Parasita

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4
On 24 de fevereiro de 2020
Last modified:24 de fevereiro de 2020

Summary:

De tanto falarem em Parasita, acabei me rendendo ao burburinho, pré e pós-Oscar e assisti o filme. Eu, sinceramente, o fiz achando que seria um filme de terror e, portanto, demorei mais do que deveria para assisti-lo. Não sei se você sabe, caro leitor, que eu tenho um certo medo, quase que gigante, de filmes de terror. Só que eu não me lembro onde li que Parasita seria um filme do gênero... Mas será que o grande vencedor do Oscar de Melhor Filme é tão bom assim, sendo sucesso de público também? Bem, eu meio que já respondi, mas vem comigo que eu te conto se é isso tudo mesmo...

De tanto falarem em Parasita, acabei me rendendo ao burburinho, pré e pós-Oscar e assisti o filme. Eu, sinceramente, o fiz achando que seria um filme de terror e, portanto, demorei mais do que deveria para assisti-lo. Não sei se você sabe, caro leitor, que eu tenho um certo medo, quase que gigantede filmes de terror. Só que eu não me lembro onde li que Parasita seria um filme do gênero… Mas será que o grande vencedor do Oscar de Melhor Filme é tão bom assim, sendo sucesso de público também? Bem, eu meio que já respondi, mas vem comigo que eu te conto se é isso tudo mesmo…

Mas antes, vamos dar uma paradinha nessa sinopse aqui:

Toda a família de Ki-taek está desempregada, vivendo em um porão sujo e apertado, mas uma obra do acaso faz com que ele comece a dar aulas de inglês a uma garota de família rica. Fascinados com a vida luxuosa destas pessoas, pai, mãe e filhos bolam um plano para se infiltrarem também na família burguesa, um a um. No entanto, os segredos e mentiras necessários à ascensão social custam caro a todos.

Bong Joon-ho fez O Expresso do Amanhã (ou Snowpierce, pra quem só conhece pelo título original) e OkjaAAAAAAAA!, dois filmes dos quais gostei muito (ambos com a Tilda “Rainha Branca” Swinton 🖤). São filmes únicos, muito bem dirigidos por Joon-ho, mas tem algo que os diferencia de Parasita e acho que pode ter contribuído para toda construção do filme: não há atores americanos no elenco. Estou dizendo isso pelo simples fato de que os atores sul-coreanos captaram, acredito eu, com mais perfeição, a mensagem que o diretor quis passar com o filme. Uma vez que os problemas na capital sul-coreana Seul foram a principal inspiração do diretor, acredito que nada melhor do que um elenco 100% coreano para transmitir a mensagem desse filme.

Com um roteiro muito bem elaborado, em alguns momentos, o tom de cada personagem faz com que você não consiga definir suas emoções diante dos acontecimentos: Parasita te faz rir, sentir-se apreensivo, tenso e por último com medo. Mas, apesar de ser uma crítica à desigualdade social, em momento algum ele nos fez sentir raiva da classe mais alta. Acredito que foi justamente o tom caricato em situações de surpresa, por exemplo, que os personagens Yeon‑kyo (Cho Yeo‑jeong) e Kim Ki‑taek (Song Kang‑ho) protagonizaram ao encontrarem uma mancha de sangue.

Em Parasita, os personagens não são apresentados individualmente. Sabe, aquela coisa em que vai tocando uma musiquinha, enquanto os personagens vão fazendo algo referente ao cotidiano de cada um? Então, não tem! Eles simplesmente nos são entregues e nós é que os colocamos na posição de protagonistas. Diante do título do filme, não há algo entregue de bandeja, tipo, “é esse personagem ou por causa disso que o filme tem esse nome”, pois isso é outra coisa que o telespectador também vai construindo. Ao longo do filme, você vai conhecendo ou desconhecendo (achando que já tinha manjado tudo, mas…) alguns personagens, na medida em que suas ações foram me deixando cada vez mais perplexa, num misto de algo chocante com cômico.

Talvez você já tenha visto algum vídeo rolando nas redes sociais mostrando o trabalho feito quanto à fotografia do filme. Num primeiro momento, parece ser algo simples, mas a linha que separa ricos e pobres está sempre ali, indo muito além do que, simplesmente ter dinheiro. Quando na horizontal, o pobre está sempre abaixo, obscurecido, visivelmente, ou ainda tão profundo que jamais alguém poderia imaginar que uma pessoa poderia estar e o rico, é claro, sempre à cima, à luz e, mesmo que a pessoa aparente ser simples, em vez de extravagante, é aí que ela está no topo mais alto. Quando esta linha está na vertical, é quando o pobre e o rico estão no mesmo ambiente, porém sempre haverá esta separação, algo que demonstra que jamais poderá ocorrer uma mistura, que, mesmo ali, ocupando o mesmo espaço, ainda sim há segregação. Ainda nessa questão de linhas, as diagonais são representadas pelas escadas e rampas: dificilmente você verá um rico descendo a escada, mas o pobre desce tanto, que chega ao bueiro. Outra coisa legal de reparar são as cores das roupas e como os tons vão clareando ou escurecendo, de acordo com a posição que cada um ocupa ou desejaria ocupar em cada momento.

Além da fotografia, Parasita possui uns diálogos bem pesados ou apenas as expressões faciais dos atores já diz muito quanto à mensagem. O diálogo e a expressão mais forte vem dos patriarcas de ambas as famílias. Mas, por falar em diálogo, eu tenho uma crítica a fazer: faltou saber como foi o retorno do amigo que indicou o Ki‑woo (Choi Woo‑shik) para o cargo de professor de inglês particular. Eu adoraria descobrir como foi o reencontro.

Parasita é um filme de terror?! Sim, mas não apenas isso. Acredito que seja um filme tão híbrido e que proporciona sensações diversas, que seja impossível defini-lo com um único gênero. E, ao mesmo tempo em que não parece terror, a mensagem retrata um horror perpetuante, real, contemporâneo, que está sempre às nossas vistas, mas é tido por alguns, como algo comum, normal e justo. Parasita é um filme com um “horror diferenciado”.