Ninguém fica para trás.
Essa pode ser a maior frase de impacto dita por Ari Levinson (Chris Evans) em Missão no Mar Vermelho, mas, muito me “admira” que o diretor israelense, Gideon Raff, tenha justamente deixado os judeus etíopes para trás em seu filme. Pelo menos, eu, como telespectadora senti isso. Sim, eu já começo esse texto bem fullpistola, porque, quando o filme foi lançado e fui procurar pelo trailer numa rede social, o que tinha de procura relacionada era algo como “filme do Chris Evans pelado”…
Não que eu já não soubesse, uma vez que, as fotos já tinham aparecido na “bendita” lupa de determinada rede social. Mas o que me chocou foi a redução do filme a isso. Aí, eu assisti o trailer, achei meio OK e resolvi assistir o filme. Aqui estou, duas semanas depois, para te contar o que achei. Precisei desse tempo pra me “preparar” e não ser muito extensa na minha escrita. Para isso, também vou procurar não me atentar muito à questão histórica e você vai entender o porquê disso.
Até porque, a sinopse fará is– bem… Se tratando de Netflix, não dá pra contar muito, mas… Enfim:
Agentes disfarçados abrem um hotel falso para turistas de verdade como fachada para salvar milhares de refugiados etíopes. Inspirado em fatos reais.
O roteiro de Missão no Mar Vermelho é baseado no que foi documentado em livros da missão de um grupo de agentes internacionais pertencentes ao Mossad, um instituto de inteligência e operações especiais (ou seja, o serviço secreto de Israel) em resgatar judeus etíopes e transportá-los para Israel, visto que a Etiópia estava em meio a uma guerra civil, entre os anos 70 e 80. Para isso, o Mossad, executou a ideia de Ari Levinson, que era negociar a compra de um resort com o governo sudanês, o Red Sea Diving Resort, reabri-lo, apenas “de fachada”, para ter onde esconder os judeus negros refugiados, até que eles fossem resgatados em botes e levados para um navio da Marinha israelense. A ideia era boa? Era. Porém, os refugiados não chegavam até o Sudão sozinhos…
É aí que entra o papel importantíssimo dos ativistas etíopes em ajudar seu povo. Um deles, que aparece no filme, era Kabede Bimro, interpretado pelo excelente ator Michael K. Williams (que atuou como pai de um dos meninos da série Olhos Que Condenam). Eu adoraria, inclusive, assistir um muito mais da atuação de Kabede nessa missão… Saber o que ele passava para juntar mais de cem pessoas num abrigo para refugiados, saber como eles “se viravam” com comida, água, com quem se machucava no caminho até o abrigo, mas… Vi muito pouco, ou melhor dizendo, praticamente nada.
Até mesmo do “vilão”, o coronel Abdel Ahmed, interpretado por Chris Chalk (o Yusef Salaam adulto, em Olhos Que Condenam) eu gostaria de saber mais e, inclusive, foi um dos que trouxe ao espectador o terror do que os refugiados viviam com medo dele. Créditos, e muitos créditos, para aquela cena do jantar… Meu irmão, foram um dos poucos momentos deste filme em que eu me inclinei e suei frio, com a tensão que a interpretação dele me causou naquela cena. Todos os atores ali foram ótimos (do jeito que poderiam ser), mas ele carregou aquela cena como ninguém.
TODO o protagonismo, desde o início do filme, foi do Ari. Sim, o Capitão América, ou “Capitão Mossad”, ficou com todo o crédito, gerando mais um filme onde o salvador branco é o grande protagonista, diminuindo toda a coragem de um povo inteiro em enfrentar qualquer coisa para salvar a si próprio e a sua família. O branco colonialista, mesmo que ali no filme não seja o caso, mas a história do nosso próprio país ensina americano ou europeu e o seu grande feito: “salvar” países pobres… Raff não aprendeu nada, por exemplo, com o recente, Green Book (não assisti, mas sei das tretas), onde todo protagonismo ficou para o homem vivido por Viggo Mortensen e o Mahershala Ali até pediu desculpas à família do homem o qual interpretou.
Essa parada de pedir desculpas, eu nem sou a favor, nem contra. Não é necessário atores pedirem desculpas por, simplesmente, trabalharem e também, negar um papel numa profissão dessas, é meio que determinar “ladeira abaixo” para a vida profissional. Só quem é grandão no meio é que, de vez em quando, pode se dar ao luxo, tipo, a Sandra Bullock que se nega a fazer cenas de nudez. E, por falar nisso…
Sou um cadinho encrencada com cenas de nudez em filme. Me causa um desconforto. É como se fosse um corpo nu que eu não tivesse permissão (vai entender) pra ver ou, muito provavelmente, isso tenha a ver com a minha “herança religiosa” aff… Ou ainda, seja porque eu assisto com outra pessoa, né, não se pode descartar essa hipótese… Mas eu concordo com o Pedro Cardoso de que, nem sempre, essa nudez e/ou uma sensualidade é totalmente necessária para a trama. Na minha humilde opinião, a maioria é, única e exclusivamente, para atrair o público e, pior, mantê-lo assistindo o filme. Missão no Mar Vermelho teve muito, mas muito disso. E, na boa, acho que essa foi a situação que me deixou com mais raiva (e olha que eu assisti sozinha, hein). Só se você assistir é que irá saber do que estou falando. O foco em explorar o corpo do Chris Evans, ao máximo, é como um chamariz para o filme. Tem outros atores e figurantes mostrando partes do corpo, decotes, shortinhos curtos e apertados para ambos os sexos, mas o foco era mostrar o Capitão América, sem blusa ou sem nada, nas cenas mais nada a ver. Enfim, o chamariz funcionou. E é isso que me dá raiva. Mexer com essa história séria e atrair espectadores com isso?! Que parágrafo grande… Parei com a minha fullpistolice.
Quanto à fotografia, Missão no Mar Vermelho também foi bem mediano para péssimo. Será que o diretor achou que as imagens dos agentes, com seus corpos esculturais socialmente falando, fingindo fazer ioga na praia com os hóspedes era suficiente? Mostrar que ali era tudo alvo, na paz, maravilhoso e que, nos abrigos dos refugiados, era tudo sujo, sombrio e cheio de medo? É apenas isso que tenho para falar sobre…
Eita, que textão! Melhor parar por aqui. Missão no Mar Vermelho é um filme para você assistir? Olha, talvez. De repente, ele te deixe bem p#%@ como eu fiquei, com vontade de assistir o outro lado da história, com o protagonismo dado a quem realmente merecia. Não, eu não estou diminuindo o esforço dos agentes e, tampouco, dos atores que os interpretaram. Inclusive, o elenco poderia ser mantido, porque é excelente mesmo! Elencaço, digno de Oscar. Mas acho que esse filme foi dirigido de uma forma estranha, com furos no roteiro (ainda acho que o Ari era um cara bem difícil de se lidar e não aquele camarada, cordial o tempo todo) e com intenções bem falhas. Missão no Mar Vermelho, realmente, não era para ter sido exibido nos cinemas. Parabéns à empresa que o produziu pelo pingo de noção e inteligência em deixar a exibição para a Netflix.
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…