Como já disse algumas vezes por aqui, atualmente quase não assisto filmes de terror/suspense (mesmo este sendo o segundo texto do gênero nesta semana). Costumo me reservar àqueles que transparecem ser mais diferentes do padrão. Recentemente, muito ouvi falar sobre Midsommar: O Mal Não Espera a Noite e ele me pareceu um destes. Filme assistido, hora de falar sobre.
Antes do chá, a sinopse:
Dani e Christian formam um jovem casal americano com um relacionamento prestes a desmoronar. Mas depois que uma tragédia familiar os mantém juntos, Dani, que está de luto, convida-se para se juntar a Christian e seus amigos em uma viagem para um festival de verão único em uma remota vila sueca. O que começa como férias despreocupadas de verão em uma terra de luz eterna toma um rumo sinistro quando os moradores do vilarejo convidam o grupo a participar de festividades que tornam o paraíso pastoral cada vez mais preocupante e visceralmente perturbador.
No meu primeiro contato com filme, conclui precipitadamente que era mais um padrão do gênero: atmosfera sombria, trilha sonora densa, cena impactante, etc. Contudo, todo esse tom clássico de terror era para inserir a protagonista na história, porque são as questões dela que norteiam a trama.
Porém, esse ar sombrio que emana de Dani é logo contrastado com as cores vivas do vilarejo sueco. O trabalho de fotografia, figurino, câmeras e cenografia são de encher os olhos! Mas apesar da beleza, a escuridão da protagonista ainda dá o tom da narrativa. Assim temos o que eu considerei o melhor ponto do filme: a dualidade entre o desconforto e o belo.
Desconforto esse que é causado pelo diálogo entre os problemas psicológicos de Dani e a estranheza com aquela cultura. Ao mesmo tempo que a protagonista conhece aqueles costumes, há uma jornada de autoconhecimento. Em resumo, esse clima claustrofóbico é construído em cima de um drama onde a ansiedade coexiste no interior e no exterior dos personagens.
Apesar desse tom dominar boa parte do filme, de vez em quando há alguns (poucos) alívios cômicos. Seja pelos bizarros dos costumes do vilarejo (que nem sempre fazem rir) ou pelas atitudes estúpidas que os coadjuvantes tomam. Afinal, estamos falando de suspense e coadjuvantes têm que fazer besteiras.
Mesmo tendo algumas cenas pesadas, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite é um filme que impacta pelas entrelinhas. Apesar de ter visto alguns comentários negativos, considero-o uma das melhores experiências que já tive com o gênero. A forma de construção do filme só reforça a minha crença de que o personagem é a alma da narrativa. Por fim, fica a mensagem: nada mais assustador do que ouvir a própria dor.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.