Assistimos: Hair Love

A 92ª cerimônia do Oscar foi emocionante! Vimos a aclamação a um filme estrangeiro, vencendo a maior de todas as categorias, mas também assistimos a premiação de um curta-metragem que teve um caminho glorioso, do Kickstarter ao tapete vermelho: Hair Love. Mesmo sendo muito comentado, desde o ano passado, demorei para dedicar um tempo a assisti-lo, mesmo sabendo da indicação ao Oscar de Melhor Curta-metragem.

Passada a cerimônia, que deu o prêmio a Hair Love, me bateu uma curiosidade sobre esse curta, que é completamente diferente de tudo que eu imaginei! Aqui estou para falar um pouco sobre esta obra emocionante! Chega mais!

Antes disso, vamos de sinopse:

Hair Love é um curta-metragem de animação sobre um pai afro-americano que tenta pentear o cabelo de sua filha, Zuri, pela primeira vez.

Hair Love tem a direção e o roteiro de Matthew A. Cherry, juntamente com Everett Downing Jr. e Bruce W. Smith. Matthew é ex-jogador de futebol americano e resolveu largar a carreira no esporte para se dedicar a uma sonho: tornar-se produtor, diretor e roteirista de cinema. Ele já produziu outros filmes, mas foi com um financiamento coletivo no Kickstarter, que ele ganhou mais notoriedade.

Acampanha de 2017 bateu recorde na plataforma, arrecadando muito além do esperado para a produção de Hair Love, com Karen Rupert Toliver como outra parceira. Como essa arrecadação, ultrapassou a meta, Matthew lançou um livro, de mesmo nome, ilustrado pela também escritora e cineasta Vashti Harrison.

Hair Love foi distribuído pela Sony Pictures, estreando no cinema, junto com Angry Birds 2 e, mais tarde, foi enviado para o YouTube. O curta foi vencedor do Oscar 2020, na categoria de Melhor Curta-metragem, prêmio recebido com bastante emoção por Matthew e Karen, que fizeram um belo discurso quanto à importante da representatividade e, como esportista, Matthew dedicou a estatueta ao atleta do basquete Kobe Bryant e sua filha Gianna, falecidos recentemente num acidente trágico.

Mas Matthew não fez tal dedicatória apenas por isso. Acredito que assim como no curta-metragem, o pai de Zuri tenta ser presente ao tentar pentear o cabelo da filha como a mãe dela faz, Matthew via em Kobe a dedicação em fazer a filha feliz, apoiando-a no que ela gostava de fazer, jogar basquete, assim como seu pai.

A mensagem do curta é bem direta: ser ativo, dedicar-se no cuidado com os filhos, sem delegar funções exclusivas as mulheres, para não se ver em apuros um dia. A ausência da mãe fica subentendida no início da trama, o que faz o telespectador focar no dilema do pai, se ele conseguirá fazer o penteado que a filha quer e que a mãe costumava fazer.

O diretor de Hair Love teve a ideia do curta, justamente por perceber que, na internet, há uma grande procura dos homens por tutoriais de como pentear o cabelo de suas filhas, algo que, não era pra ser uma tarefa difícil, mas é. Mesmo assim, é importante frizar (e não é o cabelo) a beleza que há nesse interesse, nessa vontade de correr atrás do tempo perdido.

Não sei se isso se limita aos pais de crianças com cabelo crespo, por ser um tipo que precisa de maior cuidado no pentear, pois as crianças costumam a sofrer com dores no couro cabeludo, por falta de jeito dos pais para desembaraçar as madeixas dos pequenos. Mesmo assim, acredito que os pais de crianças com cabelo liso sentem dificuldades ao manusear o cabelo, em fazer penteados, em como passar um creme, como lavar…

A arte da animação é linda, com cores vívidas e com personagens que têm as características da cultura negra bem marcantes, como os cabelos. O final do curta, que tem duração de apenas seis minutos, é a coisa mais pura, linda e marcante. O cabelo, como tema central, é apresentado como uma parte do corpo que tem grande importância na vida, principalmente, de uma mulher negra, desde pequena, quando ela é inserida em outros grupos sociais, além da família, comi vimos por aqui na HQ Nina – Descobertas.

Com um plot emocionante, do qual me segurei pra não chorar quando assisti e não dar spoiler aqui , Hair Love é um curta-metragem que eu adoraria se transformassem num longa. Ao mesmo tempo em que passa a mensagem de aceitação do cabelo por uma criança e de como ela é apaixonada por suas características negras, mostra que o cuidar de uma criança e de seu cabelo não deve se limitar apenas à mãe, mas sim que é tarefa dos pais cuidar do(a) filho(a) da mesma forma. E, caso “não saiba”, a vontade de aprender tem que estar ali, sem precisar que a mãe da criança peça ou que as circunstâncias da vida tenham que obrigá-lo. Hair Love é necessário!