Assistimos: Fahrenheit 451

“Nós somos todos constituídos de bocados, de extratos de história, de literatura, de direito internacional. (…) E se nos perguntarem o que fazemos, podeis responder: ‘Recordamo-nos’.” (Ray Bradbury – Fahrenheit 451)

2 de setembro de 2018. A data marca o incêndio da história, da cultura. Esta data marca o descaso com o Museu Nacional, o famoso “Museu da Quinta”. O lugar, que completou 200 anos, marcou gerações encantadas com o acervo histórico exposto. O encantamento cultural que lá residia, com fósseis, múmias, animais catalogados por espécies, documentos históricos (de conhecimento público ou não)… Praticamente, tudo isso e mais, foram consumidos pelo fogo.

Há poucos dias, eu estava com muita vontade de assistir um filme, chamado Fahrenheit 451, que é baseado no romance de mesmo nome, escrito por Ray Bradbury (1920-2012) e publicado em 1953. Trata-se, basicamente, de uma história futurista, num período em que os livros são proibidos e opiniões divergentes, ou seja, o pensamento crítico é duramente suprimido. Não li o livro, mas com certeza o farei.

Agora, falarei apenas do que eu “consumi”. Fahrenheit 451, de 2018, é um remake de uma adaptação, lançada em 1966. Portanto, não posso fazer comparações entre as adaptações e/ou o romance, porque posso falar apenas da parte mais recente, a qual assisti. Então, vamos à sinopse:

“Em um futuro opressivo dominado pela tecnologia, a posse de livros e a literatura são proibidas. Guy Montag (Michael B. Jordan) é um bombeiro, sua principal missão é queimar todos os livros que existem até que não sobre mais nenhum deles. No entanto, ele conhece Clarisse McClellan (Sofia Boutella), uma jovem misteriosa que faz com que ele comece a questionar suas atitudes e todo o sistema vigente.” 

Não sei ao certo o tamanho do livro, mas sabemos que não é nada fácil fazer adaptações. Ao assistir o filme, tive a impressão de que ele tinha mais para me contar, para me oferecer, mas que “não dava tempo”. Achei o filme um pouco corrido para uma história tão interessante e grandiosa. Mas, independente disso, não senti pontas soltas no enredo. As cenas são fortíssimas, juntamente, com os diálogos e os trechos de livros, lidos durante o filme, de forma pertinente, deixando mensagens fortes ao espectador.

Os personagens também tinham a sua força: Guy Montag, seus questionamentos e o choque de realidade; Clarisse e questões pessoais que, por vezes, a contraria, quanto ao lado em que realmente defende e pertence; Capitão Beatty, que lidera a causa, apesar de já ter convivido com livros.

É estranho dizer até, mas o filme tem uma fotografia muito bonita e intensa. Talvez o impacto possa ter sido mais forte, devido à imersão provocada pelo filme, quanto aos últimos acontecimentos, em especial, ao incêndio no Museu Nacional. Tantas obras que fazem parte da história, que têm a sua importância socio-cultural, sendo consumidas pelo fogo (à 451 graus, pois é a temperatura ideal para a queima de papel, usada pelos bombeiros no filme), na ficção e na vida real, mexeram forte comigo. É o fogo consumindo o passado e o presente, em detrimento do futuro. É uma forma de controle social.

Uma coisa, da qual gostaria que você ficasse atento, ao assistir o filme, é quanto às únicas obras (sim, as pessoas só têm acesso à três títulos), permitidas pelo governo à sociedade, a serem lidas. Não estou dizendo isso para influencia-lo (a) a algo, até porque tenho profundo carinho pelas mesmas, mas apenas repare e reflita. Acredito que terá certa relação com o que estamos vivendo também.

Fahrenheit 451 é um bom filme. Porém, aconselho que você leia o livro primeiro (mesmo que eu não tenha feito isso) e depois assista o filme. Acredito que eu esteja te dando essa dica, pelo fato de eu sentir que queria mais da história e, é óbvio, que terei isso quando eu ler o romance. Fahrenheit 451 é uma ótima reflexão para os dias atuais.

“Existe mais de uma maneira de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas carregando fósforos acesos.” (Ray Bradbury – Fahrenheit 451)