Assistimos: Chi-Raq

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2
On 11 de outubro de 2019
Last modified:11 de outubro de 2019

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O nome e o cartaz de um filme despertaram minha atenção há umas semanas: Chi-Raq. O nome não me era estranho, apesar de ser estranho sim, uma vez que já tinha ouvido falar, quando o Spike Lee, diretor deste filme, promoveu um boicote ao Oscar, se não me falha a memória, devido ao fato de nenhum(a) negro(a) ter sido indicado e, portanto, sugeriu que nenhum ator ou atriz negro(a) comparecesse à premiação. Mas enfim, Li o nome, vi o cartaz, li a sinopse e avistei o elenco, na verdade, um baita elenco. As duas últimas coisas, sinopse e elenco, definiram a minha vontade de assistir esse filme e cá estou para falar sobre ele.

Mas antes, foca nessa sinopse que me convenceu a assisti-lo:

Dirigido pelo aclamado diretor Spike Lee, Chi-Raq é uma adaptação moderna do clássico drama grego “Lysistrata”, de Aristófanes. Após o assassinato de uma criança por uma bala perdida, um grupo de mulheres, liderado por Lysistrata, se organiza contra a violência na região sul de Chicago, criando um movimento que desafia a natureza de raça, sexo e violência, na América e no mundo todo.

É “manêra”, né?! Como eu disse, ela, juntamente com o elenco e o roteirista, te convencem a assistir. Mas sou obrigada a dizer que esse filme não me agradou em, praticamente, nada. Eu, sinceramente, fiquei decepcionada. Chi-Raq tem um roteiro, na minha humilde opinião, arrastado, cansativo e confuso. Incrível?! É, eu também achei, mas vou tentar organizar minhas ideias e te dizer os motivos. É arrastado, porque trata-se de uma adaptação moderna de uma comédia/ drama da Grécia antiga, que foi escrita e interpretada por Atena e, o que me pareceu, e espero não estar falando besteira, é que o filme é meio híbrido, como se, literalmente, houvesse um teatro “dentro do cinema”. Agora acho que, quem te confundiu, fui eu rs! Vamos lá: sabe quando uma espécie de narrador entra em cena e começa a contar a história em forma de poema, seja sobre algo que já aconteceu ou vai acontecer? Então, o personagem do Samuel L. Jackson, o Dolmedes (depois falo mais sobre ele), tem essa função e isso me incomodou, junto com outras coisas…

Chi-Raq arrasta tanto e não é só por conta disso: os diálogos cansam também. Há uma problemática séria no filme, que é o assassinato de uma criança, mas que é abordado de maneira estanha nos diálogos entre alguns personagem, ao passo que chega a se misturar na comédia, o que deixaram, praticamente, todos os personagens muito irritantes pra mim. Todos falavam alto, fazia caretas e, ao mesmo tempo em que estavam com um semblante tristonho ou de temor, diante da situação de violência no bairro, assuntos sobre sexo eram inseridos, em questão de segundos, com semblantes de tesão. Olha, realmente, foi um martírio! Me senti sobrecarregada de informações e emoções, me permitindo ter experiências bem estranhas… Por exemplo: enquanto você está vendo uma mãe enlutada, esfregando o chão da rua, tentando tirar a poça do sangue de sua filha, no minuto seguinte, você tem o dono de um clube de striptease falando, de forma depreciativa e chula, da figura feminina, e chocado por não ter uma mulher, uma vagina (ele usou outros termos que você deve conhecer) sequer dentro da boate. É tudo muito rápido, como se fosse um susto que apaga qualquer sentimento que o telespectador teve com a cena dramática anterior, para uma cena que, também pode ser considerada dramática, sendo que é para você rir das “piadas” ou dos diálogos machistas, mas é impossível.

Por falar na cena da mãe enlutada, interpretada pela Jennifer Hudson… Esse embate entre cenas que remetem a um cotidiano real e violento (Chi-Raq é a mesclagem de Chicago com Iraque, devido a onda de violência extrema, com a maior taxa de homicídios dos EUA), junto à comédia, onde mulheres fazem greve de sexo, a fins de minimizar o índice de violência na região, deixando os chefes de facções e todos os outros homens da região sem sexo, não me permitiu sentir boas interpretações dos atores… Citei a Hudson no início do parágrafo, porque foram pouquíssimas as cenas em que senti a tristeza de uma mãe que perdeu a filha; Wesley Snipes (Ciclope) e Nick Cannon (Chi-Raq) como chefes de facções; o padre ou reverendo, interpretado por John Cusack, não transmitiu emoção, nem durante o sermão e Tayonah Parris (Lysistrata) muito “forçada” e hipersexualizada.

A hipersexualização dos negros, em maior parte, da mulher negra, foi algo que me deixou, extremamente, incomodada com Chi-Raq. Em diversos momentos do filme, achei desnecessário os comentários a respeito do corpo da mulher negra, a câmera focando na bunda, o excesso de imagens com bundas espalhadas pelo local, como propagandas, onde se a mulher servisse, única e exclusivamente, para o sexo, como se só pensassem nisso e em dinheiro, por serem mantidas por caras envolvidos com “organizações” como a própria Lysistrata corrige a Miss Helena (Angela Bassett) criminosas. Ok, o tema sexo estava lá na sinopse, já que também se trata da adaptação de uma obra que fala da abstinência sexual, em troca da paz “No peace, no pussy” era repetido, logo após um juramento que me atacava os nervos toda vez. Mas não “casou” muito bem todas aquelas falas machistas, nível hard e cenas (de sexo ou não) que mais pareciam os fetiches que homens, sejam eles negros ou brancos, têm com mulheres negras, mesmo quando estes são racistas e querem apenas o corpo, algo que nos remete aos estupros com negras escravizadas. Esse foi o grande pecado do Lee nesse filme. Um detalhe: as mulheres que iniciaram a greve, sempre tinham uma corrente como adereço… Uma mensagem dele que, perigosamente, unir as interpretações de poder sobre a mulher e fetichismo. Veja bem, não estou aqui condenando o fetiche. Estou apenas tentando mostrar o meu pensamento, diante do que vi no filme, algo que não me fez bem e que, por vezes, quase me fez desistir de terminá-lo.

Bem, fora isso, o filme tem uma boa fotografia e trilha sonora. Apesar das declamações feitas por Dolmedes cansarem ou conterem reforços à hipersexualização do corpo negro, o personagem tem muita importância na trama para, além compor a ideia de adaptação moderna de uma comédia grega (aquela questão do hibridismo que falei anteriormente), ele enfatiza em sua vestimenta a relevância das cores em Chi-Raq. As cores laranja e o roxo, por exemplo, são as cores (em tons fortes) que distinguem as facções e quem está envolvido de alguma forma nas mesmas, deve usar alguma parte da roupa que o identifique. Quanto às músicas, que são boas, algumas são cantadas pelo Nick Cannon (Chi-Raq) e, por falar nele, ao ler coisas sobre o filme, só pra saber se eu não estava sozinha em meus pensamentos, descobri que a primeira opção do Spike Lee era o Kanye West… Sinceramente, ainda bem que o “Ye” (como o cantor queria, ou ainda quer, sei lá, ser chamado) desistiu, pois o papel parece que foi feito para o Nick, sendo ele muito bom na interpretação e nas músicas. Isso, inclusive, me lembrou uma coisa: que esse filme também pode ser considerado um musical, pois é através de shows de hip hop que o Chi-Raq e o Ciclope se expressam.

Baita textão, né?! Até parece que gostei do filme… Olha, eu nem te indico, mas você é livre pra decidir. Eu só finalizei Chi-Raq, porque eu sou teimosa e, mesmo que o filme me irritasse em vários momentos, eu queria ver até onde ele iria. Minhas emoções ficaram ainda mais confusas no final do mesmo e eu queria que ele acabasse logo. Enfim, esse texto é tipo um desabafo, diante a minha frustração com esse filme.