Assistimos: Blade Runner 2049

Fazer uma sequência de um filme aclamado pelo público cult trinta e cinco anos depois, seria uma escolha correta? Terá essa sequência inúmeras versões do diretor? Se a crítica gostou, mas a bilheteria foi ruim, o que aconteceu? Por que nós do Torrada demoramos tanto a fazer essa resenha?

São inúmeras as questões que rodeiam Blade Runner 2049, mas enquanto não temos essas respostas… Eu tô aqui para falar o que eu achei. Partiu?

Antes de começar, vamos entender do que se trata: “Trinta anos após os eventos do primeiro filme, um novo blade runner, o policial K (Ryan Gosling), do Departamento de Los Angeles, desenterra um segredo que tem o potencial de mergulhar o que sobrou da sociedade em caos. A descoberta de K o leva a uma jornada em busca de Rick Deckard (Harrison Ford), um antigo blade runner da LAPD que está desaparecido há três décadas“.

Na minha opinião o grande acerto do filme foi manter o viés filosófico do seu antecessor, onde as grandes questões são a vida e a existência. Os alvos do Blade Runner simplesmente querem viver e fazem o que for possível para garantir este desejo. Entretanto, o filme traz uma nova possibilidade ao universo, o dito milagre. Que eu adoraria falar sobre, mas mesmo o filme tendo sido lançado há um certo tempo, a nossa política é anti-spoiler. Sim, vá assistir!

Dentro dessas questões sobre vida natural e artificial ainda é aberto um debate sobre o preconceito contra os replicantes, o que é uma grande ironia, uma vez que quase tudo é artificial dentro daquela realidade. Mas o ser humano é o senhor do(s) planeta(s) e tudo que é criado por ele estará ao seu serviço, mesmo que o “objeto” em questão tenha consciência (embora criada, ainda é). É determinar a soberania de uma “raça” sobre a outra para justificar a escravidão.

Como toda boa ficção científica, o pessimismo é o que comanda a narrativa. Isso é claramente exposto em quase todas as personagens. Quase todas, porque ironicamente a personagem mais “viva” é a que não tem vida alguma, a holograma Joi (Ana de Armas). Os ambientes também ilustram muito bem esse pessimismo: o único brilho e alegria estão nos neons nas fachadas dos prédios. Mais uma vez a fotografia brilha na construção desse futuro decadente.

Finalizando, destaco como a narrativa foi executada com muita responsabilidade. Temos um bom filme de detetive, sem nenhuma grande reviravolta, mas ainda bom. Se você espera um filme de ação, vai achar tudo arrastado, porque a coisa chega quase (mas quase mesmo) lá quando Deckard (Harrison Ford) dá as caras.

Blade Runner 2049 não é uma sequência essencial, mas complementa o universo com responsabilidade e nos dá um gosto de quero mais. Dentro dessa dicotomia entre natural e artificial, podemos refletir sobre a nossa existência e dizer aos nossos “senhores” que temos direito de ter as nossas vidas e viver à nossa maneira.