Assistimos: Bacurau

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5
On 11 de dezembro de 2019
Last modified:11 de dezembro de 2019

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Recentemente (pelo menos foi o que pareceu pra mim), um filme nacional ganhou uma grande repercussão na internet: Bacurau. Confesso que, inicialmente, não dei muita atenção, mas, depois de um tempo, devido à vez ou outra, ter alguém comentando ou compartilhando sobre o filme nas redes, fiquei intrigada com algo: por que todos só falam que Bacurau é muito bom, mas não falam o que é Bacurau e o porquê dele ser tão bom?

Admito que parte da minha falta de atenção inicial se deu pelo fato de eu não ter um apreço por filme nacional. Não é que eu não goste dos atores, ou ache que a produção não é boa, que as histórias não são boas. Muito pelo contrário. Eu acredito e sempre acreditei muito no potencial das produções nacionais. O que me incomoda é uma forçação de barra, mais precisamente, de cunho sexual, que se credita às mesmas, como se isso fosse vender. E o que isso me parece e me incomoda mais ainda é que dá a entender que eles precisam de tais recursos para isso. Sério, isso me deixa muito p%#@ da vida! Falarei a respeito mais tarte… Lembrando que este é um texto de opinião e você tem total liberdade para discordar da mesma, ok?!

Então, falarei de Bacurau, indicado a muitos prêmios e vencedor do Prêmio do Juri, do Festival de Cannes e de Melhor Filme do Festival de Munique, por exemplo. Vem comigo!

Antes disso, a sinopse:

Pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.
Bacurau é um filme excelente! É um filme riquíssimo! Cultura, política, denúncia, descaso, preconceito, injustiça, verdade, fantasia. O roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é gigante. Quando comecei a assistir, percebi uma aleatoriedade que foi seguida por um mistério, uma bizarrice, um drama, uma verdade ou uma fantasia. A cultura do povo brasileiro, mais precisamente, do sertão brasileiro é retratada com muita verdade, com o peso existente da vida no sertão.
Apesar da vida que parece castigar o povo de Bacurau, os personagens desse povoado são fortes e isso vai além do físico. São homens e mulheres que vivem suas vidas livres, independentes. Entre eles, não existe preconceito, desumanização e isso independe das escolhas e pensamentos de cada indivíduo. É um povoado que nos ensina a viver, mesmo que eles possam “aparentar” não ter muita coisa nessa vida, mesmo que os seus direitos lhes sejam tirados, mesmo que sua existência seja apagada, o povo de Bacurau se mantém vivo e unido. Para tal, além de uma boa produção e direção, há um elenco perfeito.
A fotografia de Bacurau parece ser simples, inicialmente, mas não é não. A paisagem é repleta de cores vivas, fortes, que, na minha opinião, se mesclam às cores da pele do povo, dos cabelos, nas vestimentas, do chão e do sangue. Os tons alaranjados e avermelhados estão presentes a todo momento no entorno do povo. As cenas são fortes, realistas e impactantes, pois causam aflição, suspense, comoção, revolta e, por vezes, saciedade, mesmo em cenas violentas.
Como sempre, dificilmente, um filme brasileiro não tem uma cena de sexo. E, como sempre também, elas podem ser importantes para contextualizar situações ou não. Neste filme, após terminar de assisti-lo, critiquei as cenas de sexo, mas fui a favor das cenas que só continham nudez, parcial ou total. Mas na conversa que tive com o Joe, pude perceber que TUDO em  Bacurau foi necessário. O excesso de adrenalina e a busca à mesma, em variadas situações, foram de extrema necessidade de inserir cenas de sexo. Quando você maior de idade assistir, vai compreender mais rápido do que eu essa necessidade do sexo. Poderia mostrar menos? Poderia, mas se os atores estão dispostos a tal, simbora!
Bacurau tem esse nome referente a um ônibus que era o último a circular de madrugada em Recife, Pernambuco. O nome é de origem tupi wakura’wa, nome dado a uma ave de hábitos noturnos, comum nos sertões do Brasil. Muita coisa em Bacurau acontecia à noite, sejam elas boas ou não para o povo. Queriam Bacurau invisível, na completa escuridão. Mas o povo sempre ressurgia, retornava à luz e se fazia ser visto, existir. Por fim, percebi que caí na mesma do pessoal das redes: é melhor não falar muito de Bacurau. Portanto, descubram Bacurau.