Lemos: Te Vejo No Próximo Mundo


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On 9 de junho de 2021
Last modified:9 de junho de 2021

Summary:

Já se imaginou, depois de uma bela noite de sono, acordar em outro mundo? No conto Te Vejo No Próximo Mundo, de Waldson Souza, isso acontece com o "viajante" Amon. Sem constância alguma de tempo, ele adormece na incerteza se vai acordar no mesmo lugar ou se acordará num outro mundo, numa outra realidade. Este conto foi publicado num lançamento recente e super aguardado: a Revista Afroliterária, um projeto independente que visa a valorização e a promoção da literatura negra, sendo financiado e apoiado coletivamente de forma mensal, apoio este do qual faço parte. E, é por isso que aqui estou para falar sobre este conto afrofuturista que se encontra nesta revista de estreia. Me segue!

Já se imaginou, depois de uma bela noite de sono, acordar em outro mundo? No conto Te Vejo No Próximo Mundo, de Waldson Souza, isso acontece com o “viajante” Amon. Sem constância alguma de tempo, ele adormece na incerteza se vai acordar no mesmo lugar ou se acordará num outro mundo, numa outra realidade. Este conto foi publicado num lançamento recente e super aguardado: a Revista Afroliterária, um projeto independente que visa a valorização e a promoção da literatura negra, sendo financiado e apoiado coletivamente de forma mensal, apoio este do qual faço parte. E, é por isso que aqui estou para falar sobre este conto afrofuturista que se encontra nesta revista de estreia. Me segue!

Mas antes de viajarmos para outro mundo, a sinopse:

Quando dorme, Amon é levado para outros mundos. E sua única certeza é sempre encontrar e se apaixonar pelo mesmo homem.

Lançada neste mês de junho, a Revista Afroliterária traz texto reflexivo, uma entrevista que, ao mesmo tempo, são sugestões de livros, divulga outros materiais e traz o conto afrofuturista do autor Waldson Souza, para fechar com chave de ouro esta primeira edição.

Acordar em mundos diferentes. Essa é a vida de Amon. Sem lembrar-se do passado, de sua origem, quando ele se instala num mundo, vive na incerteza de adormecer ao lado da pessoa amada e, num belo dia, acordar num mundo totalmente diferente do anterior. Mas de que mundo ele veio afinal? Como retornar? Como pausar essa inconstância de moradas, em meio às incertezas de despedidas e reencontros?

Quero começar dizendo que adorei Te Vejo No Próximo Mundo e a imersividade que este proporciona. Quero também dizer que tal sensação foi bem parecida com a que tenho com um romance que estou lendo, chamado Kindred – Laços de Sangue, de Octavia Butler (1947-2006), cuja protagonista também “viaja” ao adormecer, mas é para o passado, no tempo da escravidão e por outros motivos, que diferem muito da temática do conto de Souza.

Com uma narrativa envolvente, cujo narrador é o protagonista Amon, o conto nos proporciona sentir um pouco das aflições que Amon passa, como não conhecer mais ninguém além do homem que ele ama, dormir ao lado dele e, de repente, acordar noutro mundo, literalmente falando. Mas, na minha opinião, a pior parte (não é a mesma opinião do protagonista) é o fato dele não se lembrar de absolutamente nada do seu mundo de origem.

Só que o interessante de Te Vejo No Próximo Mundo é que o autor, ao não entregar nada dessa origem de Amon durante o conto, me permitiu questionar muitas coisas, como própria existência de protagonista, se este teria mesmo um lugar de origem, se ele fazia mesmo essas “viagens”, se a pessoa amada (que “tem sempre os mesmos olhos, o mesmo sorriso”) que ele sempre procurava e conseguia reencontrar nesses mundos realmente era a mesma pessoa… Enfim, por muitas vezes me peguei achando que tudo isso seriam devaneios de Amon, mas Souza conseguiu me surpreender no final.

Te Vejo No Próximo Mundo é um conto afrofuturista, mesclando romance e à “viagens” entre mundos distópicos, como num passe de mágica, que faz parte da Revista Afroliterária, recentemente lançada e com um futuro promissor. As tramas afrofuturistas são construídas através de uma perspectiva negra, em que nascem elementos culturais, artísticos, sociais, filosóficos e científicos são misturados a todos estes mesmos elementos afrocentrados, afrodiaspóricos, a um realismo mágico e cósmico. Recomendo muito a leitura e, é claro, o apoio à Revista.