Lemos: Sete Ossos e uma Maldição

Terror/ Horror é um tipo de gênero que eu gosto em partes: não gosto de filmes, mas adoro livros desse gênero. Eles sempre me atraem (depois dos quadrinhos) bastante, principalmente se é algo que dê para partilhar com meus alunos. Nós já temos uma natureza curiosa, propensa à busca do que não se conhece, do misterioso e, se você quer conquistar a atenção de crianças/ pré-adolescentes, é por esse caminho se deve seguir.

Durante o curso de pós-graduação que fiz, a professora de Literatura Infanto-Juvenil me apresentou alguns livros que seriam interessantes para leitura deleite em sala de aula, algo que poderia entreter os alunos. Dentre os livros, me apaixonei por um livro de pequenos contos de terror: Sete Ossos e uma Maldição. O livro de Rosa Amanda Strausz, cujo título é também o nome de um dos dez contos, fez um sucesso danado na escola onde leciono, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. É claro que, com uma linguagem infanto-juvenil, a contadora de histórias (que no caso sou eu) se vê na obrigação de fazer algumas adaptações em determinadas histórias, por crenças religiosas que aparecem (infelizmente o preconceito religioso já é encontrado nessa faixa etária) ou termos que são um tanto que complexos para o entendimento da turma, tendo que adaptá-los para que não perca a atenção dos pequenos.

Neste livro, a autora usou histórias comuns (ou que pelo menos começam comuns) que, devido ao suspense muito bem criado, a narrativa cresce e consome o ouvinte (e o leitor) como um monstro que vai abocanhá-lo a qualquer instante (pelo menos eu me senti assim e é isso que percebo nos meus alunos). Para quem conta a história é uma sensação MA-RA-VI-LHO-SA, porque a gente acaba se surpreendendo com a atenção das crianças, COMPLETAMENTE voltada para o contador. E o melhor: todos os contos terminam de repente, dando aquela sensação de “Ué, acabou?!”, que acaba iniciando, naturalmente, um debate e nos faz escutar “Ahhhmmm… ‘Tava’ tão legal… Conta outra história, por favor…”. Por isso, vou contar um pouco de cada conto, de maneira beeeeem sucinta (sem spoiler), pra que já comece a despertar a curiosidade em você, leitor.

Crianças à venda. Tratar aqui.
Marialva era uma mulher muito pobre que colocava os filhos à venda, pois não queriam que eles vivessem ou morressem (já tinha perdido alguns) naquela situação de miséria e tivessem um futuro melhor que o dela. Dos cinco filhos que lhe restaram, vendeu quatro, pois Simara já tinha dez anos e ninguém queria criança velha demais. Porém, a venda de seu último filho, Fabiojunio, a um estranho casal, deixou uma inquietação em Simara, que se viu na obrigação de trazer seu irmão para casa novamente.

Devolva minha aliança
Pedro e Antônio são dois meninos que adoram altas emoções. Costumam a brincar de pique dentro do cemitério e pegar as flores dos enterros. Certo dia, depois de acompanharem o cortejo de uma noiva que morreu no dia do casamento, os meninos vêem o noivo jogar uma aliança na cova da noiva morta. Um deles tem a “brilhante” ideia de pegar a aliança de ouro para vender. Mas essa ideia os fará perder o sono e outras coisas.

Os três cachorros do senhor Heitor
Uma criança foi encontrada morta numa praça. A notícia se espalhou rapidamente pela pequena cidade de Bambuzal. As circunstâncias da morte eram desconhecidas, mas o jeito como Zé foi encontrado, intrigou os colegas Marcelo, Tito e Rosana, ambos com treze anos. Juntos, iniciam uma séria investigação, pois não confiavam na conclusão do caso dada pela polícia. Nessa caçada ao assassino de Zé Luiz, as crianças descobrem uma história antiga e surpreendente.

Dentes tão brancos
Após chegar de uma festa à fantasia na casa de sua amiga rica, cujo tema era a Morte, Andreia é recebida em casa por sua mãe, que estava bem furiosa, lhe perguntando por onde ela tinha andado toda aquela noite. Segundo a mãe, ninguém viu Andreia durante a festa e, sequer a viram chegar lá. Mas a menina se esforça pra lembrar onde estava realmente e recordou-se de um lindo e ‘diferente’ rapaz que conheceu durante a festa. A partir dessas lembranças, a menina se vê em um de seus maiores pesadelos.

O chapéu de guizos
Um menino de treze anos sempre escutou vozes, desde muito pequeno. Sempre escutava alguém pedindo socorro, a falecida avó lhe pedindo um favor ou até uma voz feminina desconhecida cantando cantigas de ninar ao pé do ouvido. Mas agora, uma voz o faz sentir calafrios: a voz do chinês. E esta voz começou a aterrorizá-lo, depois que ele encontrou um objeto no misterioso baú de sua falecida avó.

Sete ossos e uma maldição
Clara vem tendo muitos pesadelos nos últimos dias. Sua tia, que é espírita, assim como os pais de Clara, a orientou queimar todos os móveis de seu quarto, logo após a menina relatar ter visto um estranho vulto e escutado uma voz nervosa: “Meus ossos.”. Depois de seguir as ordens da tia, Clara arrumava sua estante de bonecas em seu novo quarto, aquando encontrou uma caixa, da qual não havia se dado conta da existência, onde dentro havia uma outra boneca lindíssima e deu-lhe o nome de Muriel. Mais tarde, Clara começou a perceber estranhas situações em seu quarto.

O fruto da figueira velha
Comprar a casa dos sonhos é uma das maiores realizações para uma mulher prestes a se casar. Denise convenceu o noivo a trocar um pequeno apartamento por uma mansão, realizando seu sonho. Mesmo precisando de uma pequena reforma e com os avisos da vizinhança de que a casa era mal-assombrada, o casal adquiriu o imóvel e, após a reforma pronta, mudaram-se pra lá. A única coisa que foi mantida foi uma antiga, frutífera e linda figueira que, após Denise comer um dos frutos, sua estadia na casa só lhe trouxe pesadelos horríveis.

A procissão
Quatro amigos na mesma rua deserta, de madrugada. Apenas um deles vê uma procissão. Adriano vê, assustado, um grupo de mulheres com véus negros e círios acesos nas mãos, porém, sem nenhuma imagem de santo sendo carregada à frente do grupo. Mas ao olhar com mais atenção, o menino começa a conhecer rostos vivos e mortos também, que o deixará mais intrigado e o fará iniciar uma investigação sobre o que viu naquela madrugada.

Morte na estrada
Sabe a história da mulher de branco, que todo caminhoneiro diz já ter visto nas estradas? Então, um belo dia, voltando de uma viagem, Tico e sua família avistam uma mulher de camisa branca, calça jeans, cabelo comprido, preso num rabo-de-cavalo… E em desespero. A mulher os atraiu para um local, pedindo-lhes ajuda. Tal ajuda, tempos depois, acaba trazendo grandes revelações à vida de Tico.

O elevador
Um menino vive com seu pai desempregado e, por conta disso, eles estão sempre de mudança, pois não conseguem pagar o aluguel em dia e fixar num só lugar. E só lugares esquisitos, porém este último, ganha disparado como o pior de todos. Um prédio muito antigo, porém considerado um dos mais luxuosos da cidade na época (1930), com um elevador que ainda tinha um ascensorista. Na primeira noite, o menino começou a escutar uns barulhos bem fortes e tudo indicava que vinha do elevador. Depois de vasculhar o prédio, descobriu um lugar muito bem escondido do prédio, que o levou a um dos momentos mais sinistros de sua vida.

Espero que este breve (eu tentei rs) resumo dos contos tenham te deixado curioso e com muita vontade de ler Sete Ossos e uma Maldição. Uma leitura rápida, capaz de te prender do início ao fim de cada conto e que vale muito a pena adquirir, sem se arrepender de mantê-lo na sua estante. Afinal de contas, um livro capaz de manter o foco de quase vinte e cinco pré-adolescentes voltados para um contador de histórias/ professor, não é um livro qualquer. Sete Ossos e uma Maldição é um suspense infanto-juvenil de ótima qualidade!