Proteção. A duas primeiras definições dessa palavra são “cuidado com algo ou alguém mais fraco” e “o que serve para abrigar; abrigo; guarita”. Essa é a palavra que define o encontro entre Jim Hammer e Annie Poole, em Santuário, conto da escritora, bibliotecária e enfermeira norte-americana Nella Larsen (1891-1964) e que fez parte de uma das caixas do financiamento coletivo Clube da Caixa Preta, da Editora Escureceu, que visa resgatar contos esquecidos, porém não menos importantes, de autores pretos. Conto lido e aqui estou para falar sobre e sem spoilers. Siga-me!
Mas antes, vamos à sinopse:
Perseguido, devido a algo de errado que tenha cometido (ou não), um homem caminha, rapidamente, por uma estrada abandonada, até encontrar uma cabana para se proteger. Mas resta saber se quem habita esta cabana irá provê-lo da proteção esperada.
Imagine que você está sendo perseguido, numa estrada abandonada e, para não fazer muito alarde, você não corre, apenas caminha rapidamente, para não reproduzir quaisquer ruídos que lhe denuncie. De repente, ao avistar uma cabana que, aparentemente, é habitada por alguém, você adentra a mesma. A partir daquele momento, sua vida depende daquela pessoa que você encontra lá dentro. Esse foi o drama de Jim Hammer, mas, para a sorte dele, que fugia de homens que, segundo ele, tinham a intenção de matá-lo, a dona da cabana parecia não ser um desconhecido: Annie Poole, mãe de Abadias, um conhecido dele.
Fuga, ação, tensão, confiança… São elementos que me fizeram ficar cada vez mais vidrada na história e tensa com o que estaria por vir. Desde o momento em que Jim entra na casa e todo o seu diálogo de convencimento com a senhora Poole, até o final, Santuário é um conto que trabalha muito com a imaginação e com os sentidos do personagem, fazendo com que o leitor consiga assimilar toda tensão corporal do Jim em vários momentos, ou até mesmo a audição apurada do personagem, por exemplo, quando este se esforça para ouvir um diálogo ao longe.
Há uma aparente ligação entre os personagens que vai além do fato de Jim dizer conhecer Obadias, que é o fato da senhora Poole imaginar o filho na figura de Jim, com pensamentos como “E se fosse meu filho?” ou “Eu também seria agradecida a quem protegesse meu filho.”. Não que esses pensamentos estejam no conto, sendo estes apenas suposições minhas a respeito da postura de Annie Poole ao abrigar alguém, independente do que tenha feito. E, diante disso, refleti mais sobre o título do conto e interpretei que, na verdade, o coração de uma mulher negra é um santuário: forte (a ponto de parecer indestrutível para muitos), gigante, acolhedor, protetor e que, independente da dor, das tentativas externas de dilacerá-lo, esse santuário segue em transparecer ser uma fortaleza. Me lembrou muito minha mãe, inclusive, mulher que vi chorar pouquíssimas vezes na minha vida, apesar de eu saber que a vida dela não foi fácil.
Se existe algum “problema” (se é que eu posso chamar dessa forma) em Santuário é que eu gostaria de saber mais sobre o destino dos personagens, além da forma como ele termina. Isso talvez seja uma dificuldade que eu tenha de aceitar finais que, na minha opinião são inacabados. Mas isso não anula, de forma alguma a grandeza emocional que existe em Santuário. É de certo que buscarei outras obras de Nella Larsen, pois a mesma conduz o leitor de forma brilhante.
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…