Lendo os contos traduzidos e publicados recentemente pela Editora Escureceu, percebi que alguns não tiveram resenha aqui no site, apesar de já terem sido lidos por mim. Então resolvi fazer uma “atualização”, começando por O Homem Errado, de Nella Larsen (1891-1964), a mesma autora de Identidade, romance de 1929, que foi traduzido e publicado aqui no Brasil em 2021, pela Editora Happer Collins e adaptado para um longa, lançado pela Netflix, também em 2021. Então, finalmente, aqui estou para falar sobre O Homem Errado. Vamos lá?!
Mas, antes da confusão, a sinopse:
Julia Romley terá uma noite incrível: suntuosa, cercada de pessoas com seus trajes de gala, assim como o vestido que Julia encomendara especialmente para a ocasião. Lá estava ela, feliz, dançando com seu amado esposo, quando a figura de um homem que pertenceu ao seu passado, aparece na festa, o que poderá pôr a Srª Romley a perder tudo o que conquistara.
Como eu disse, ao ler uma das últimas publicações da Editora Escureceu, das quais também falarei por aqui em breve, percebi que alguns contos já lidos não tiveram uma resenha escrita por mim. São contos inclusive, que gostei bastante, uns até foram cortesia/ conto extra do Clube da Caixa Preta, o financiamento coletivo que a editora já citada promove, a fim de resgatar contos que jamais foram traduzidos para a língua portuguesa e que são importantes, cuja temática se mantém atual.
O Homem Errado é um conto de Nella Larsen, publicado em 1926, em que a personagem Julia Romley, após ter conquistado sucesso em Nova York, ter se casado com Jim Romley em Boston e ir morar num lugar exclusivo de Long Island, vê seu “castelo” ter as estruturas abaladas. Um homem que pertence ao seu passado é um dos presentes na festa em que Julia transbordava sua felicidade ao dançar com seu esposo. A presença fez o corpo de Julia estremecer, mesmo que ela negasse ao seu esposo estar sobressaltada, pois o homem, Ralph Tyler, sabia um segredo de Julia que, segundo os pensamentos desta, colocaria sua vida perfeita em risco.
A trama é ambientada apenas neste que parece ser um luxuoso salão de festas, numa igualmente luxuosa casa, pois em dado momento a personagem principal vai para um andar acima, com um quarto, a fim de se afastar da situação que a atormentava. Tudo acontece muito rápido, já que o conto tem, mais ou menos, trinta páginas e, na maior parte dele, o leitor consegue perceber o torpor e nervosismo da Srª Romley ao se ver tendo de enfrentar seu passado, tão repentinamente, para manter seu segredo guardado à sete chaves.
Uma coisa interessante a ser observada em O Homem Errado é como a autora consegue nos deixar explícita a forma soberba da sociedade ao falar de uma pessoa indígena ou que, ao menos, tenham traços que ressaltem sua origem. “Chefe indígena”, “pele amarronzada”, “desacostumado com cenas desse tipo” e “pessoas impossíveis” são expressões usadas remetentes a Ralph Tyler. E, diante disso, me parece que Julia Romley talvez tenha um outro “segredo”, que esteja implícito no conto: a sua negritude, sendo ela, possivelmente, uma mulher negra e de pele clara.
Posta no parágrafo anterior entre aspas, a palavra segredo é o que rege este conto de Nella Larsen que, inclusive trabalhou com a mesma palavra chave em Santuário (1930). A cor da pele é alvo de atenção neste conto, seja de forma explícita ou implícita, como parte de algo que ser tem a ser disfarçado, escondido, posto em segredo. O Homem Errado é uma leitura rápida, que fui bem e com um final surpreendentemente interessante, até mesmo na reação que me provocou como leitora. Recomendo!
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…