O Clube da Caixa Preta, financiamento coletivo da Editora Escureceu, comemorou seu primeiro ano de existência no mês de setembro. E, para esta importante data, o conto Disparo, de Alexandre Pushkin (1799 – 1837), foi escolhido pela editora, que resgata contos de autores pretos nunca traduzidos e/ou publicados por aqui. Sendo este um conto russo, é mais uma novidade nas traduções feitas pela editora, que até então só tinha traduzido do inglês. Mas será que tem alguma diferença na estrutura dos contos russos? E o conto em questão é bom? Vem que eu te conto!
Mas, antes de sacar minhas armas de análise, a sinopse:
Num quartel, um respeitado homem que não era militar, após não confrontar um adversário em potencial, viu sua figura de ‘mais velho’ e honrado dentre dos demais se esvair. Porém, uma carta vinda de longe, lhe trouxe uma notícia capaz de mudar os rumos de sua vida, de outras pessoas e de retomar ao seu ‘posto de durão’.
A trama é, basicamente, essa. É narrada por um dos soldados (creio eu que seja um soldado) pertencentes a um determinado quartel, sendo este próximo do honrado homem de pouca idade, porém mais avançada que a dos demais militares. A história é toda vista pela ótica desse soldado, seja com relação a seus sentimentos amistosos pelo destemido homem e os desdobramentos com os quais ele vai se deparando ao longo da trama, descrevendo tudo perfeitamente.
A estrutura literária de Disparo é um pouco diferente do que costumamos ver. Na literatura russa da época de Pushkin, havia um recurso de não nomear os personagens e lugares, limitando-se a colocar apenas asteriscos e, por vezes, a letra inicial de um nome. Confesso que me incomodou um pouco no início, mas fui me acostumando, no decorrer da leitura e, no fim, não atrapalhou em nada na compreensão da trama. É impressionante, como tal recurso funciona. Pelo menos, numa estrutura de conto sim.
A leitura de Disparo, apesar desse recurso próprio da época e da literatura russa, é fluida e de fácil entendimento. O conto é interessante e prende o leitor em muitos pontos. Quanto ao enredo, achei um pouco simplório, digamos assim, o final do conto, pois o propósito do deslocamento do personagem me pareceu um tanto descabido para o tal momento escolhido, ao meu ver. É compreensível, no entanto, que para o personagem e para o contexto de militarização no qual ambos estavam inseridos, tudo faz sentido.
Em resumo, Disparo entrega um bom enredo, apesar de eu ter discordado com a (in)oportunidade escolhida por um dos personagens para concluir algo inacabado. Vale ressaltar aqui que a Editora Escureceu proporcionou a seus leitores um brinde: mais um conto, sendo este uma versão afrocentrada de Disparo. Falarei dele na próxima resenha. Aguardem…
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…