Lemos: Crazy Mary

Como uma acusação, que não é devidamente apurada, pode acabar com vidas e sonhos de tantas pessoas? É isso (e mais um pouco) que podemos encontrar no conto Crazy Mary, de Claude McKay (1889-1948). Publicado primeiramente em 1932, o conto foi traduzido pelo Clube da Caixa Preta, financiamento coletivo do qual sempre falo e elogio por aqui. Sem mais delongas, vou contar as minhas impressões desta leitura. Me acompanhe!

Mas, antes disso, a sinopse:

Mary é uma mulher que vaga pelo povoado de Gingertown, sempre carregando um pequeno ramo de flores. Todos sabem que ela está assim hoje, devido a um longo período triste e doente, mas que a senhorita Mary não era assim. Uma situação ocorreu naquele povoado, cujos habitantes passaram a confrontar opiniões a respeito e onde alguns, assim como Mary, jamais voltaram a ser os mesmos.

Em Crazy Mary, cujo título não teve tradução, mas seria algo como “Maria Louca”, temos a protagonista de mesmo nome e que tem uma condição de saúde que a leva a vagar pelas ruas do povoado de Gingertown. Mas o conto inicia nos relatando que Mary não era assim há uns tempos, que sua saúde mental ficou afetada, após um acontecido que mexeu com a cidade. Antes, a senhorita Mary era uma mulher muito bem quista por todos, muito prendada, sendo uma excelente costureira, que lhe garantiu um emprego como professora de costura. Inclusive, corria pela cidade assuntos a respeito de um possível pretendente e que todos fazia gosto pelo futuro da relação.

Mas as personagens que vão adentrando no enredo fazem com que tudo se transforme e toda trama tome um novo rumo, com acusações surpreendentes e atitudes de personagens que vão nos surpreendendo ainda mais. São acusações que, a princípio, nos fazem ter um tipo de olhar para determinados personagens, mas quando estes tomam suas decisões e agem, nossa percepção e opinião sobre os mesmos muda completamente. As mudanças são até de ambiente, com “fugas” por motivações distintas.

A trama mexe muito com o leitor, porque ela começa num ponto atual e retorna ao passado para nos explicar a o que aconteceu com Mary. É claro que a história tem os seus pontos de clímax, mas o que foi absolutamente surpreendente e angustiante foi o final. Jamais passaria pela minha cabeça que aquilo poderia acontecer e de uma forma tão melancólica, perturbadora e triste. É de certo que, pelo início, imagina-se que dificilmente o final seria feliz ou ameno, mas não da forma que foi, o que serviu até como alerta para a vida real. A leitura envolve o leitor de uma forma muito potente, fazendo com que se queira saber logo o desfecho para cada personagem, torcendo para eles ou não.

Crazy Mary foi o conto primeiro conto de 2022 traduzido e publicado pelo Clube da Caixa Preta, que é uma excelente iniciativa de resgatar contos de autores negros que nunca foram traduzidos por aqui e que são de grande contribuição para discussões que ainda permeiam nestes tempos. O conto de Claude McKay é um dos que tem grande importância para refletirmos a respeito de nossa saúde mental e dos efeitos que a sociedade têm para lidar uns com os outros, ainda mais hoje, com uma comunicação mais rápida com a internet.