Lemos: Cora Destemida

Review of: Cora Destemida

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On 1 de outubro de 2021
Last modified:1 de outubro de 2021

Summary:

O financiamento coletivo Clube da Caixa Preta nos trouxe em sua caixa de julho o conto Cora Destemida, de Langston Hughes (1902 - 1967). A escolha da Editora Escureceu para este mês foi específica, já que comemorou-se no final do mês anterior o Dia Internacional do Orgulho LGBT. E, uma vez que o autor deste conto era um grande poeta renascentista do Harlem e ícone cultural gay negro, a escolha foi certeira. Conto lido, então, vamos falar sobre ele?! Me acompanhe!

O financiamento coletivo Clube da Caixa Preta nos trouxe em sua caixa de julho o conto Cora Destemida, de Langston Hughes (1902 – 1967). A escolha da Editora Escureceu para este mês foi específica, já que comemorou-se no final do mês anterior o Dia Internacional do Orgulho LGBT. E, uma vez que o autor deste conto era um grande poeta renascentista do Harlem e ícone cultural gay negro, a escolha foi certeira. Conto lido, então, vamos falar sobre ele?! Me acompanhe!

Mas, antes prosseguir, a sinopse:

Cora Jenkins e sua família eram os únicos moradores negros de Melton, um vilarejo sem muitos atrativos. Mas apesar disso, as famílias brancas que lá moravam, sentiam-se muito superiores em relação à família Jenkins, principalmente a família Studevants, para a qual Cora trabalhava como “faz tudo”. De certa forma, mesmo com toda a distinção que afastava Cora dos Studevants, a vida de ambos se entrelaçam, após decepções e perdas, talvez, irreparáveis. 

Cora uma mulher que não conseguia empregos em outros lugares, sendo a família dela a única família negra que residia naquele lugar. Apenas uma família aceita dar-lhe uma “oportunidade” de trabalho doméstico, no estilo “faz tudo”, em troca de pouca remuneração: os Studevants. Uma família composta por um homem muito ocupado com o trabalho, uma “dona de casa” que apenas mandava e desmandava para que Cora Jenkins tudo fizesse e crianças que, após crescerem, saíram de casa para “estudar fora”. Exceto uma, Jessie, de quem, Cora cuidava como uma filha, mesmo já tendo uma filha da mesma idade, chamada Josephine. Esta última, fruto de um relacionamento de Cora com um rapaz branco, chamado Joe.

A relação de Cora com a família Studevants se intensifica na medida em que ocorrem perdas de ambos os lados. E tal intensidade aqui mencionada não está ligada a algo romântico, benevolente. Como o próprio nome do conto nos entrega, Cora Jenkins é uma mulher forte, corajosa, sem maiores temores. Isso, porque a vida já lhe fez ser fortaleza para lidar com toda segregação no entorno de sua família. Por aí, há de se imaginar que a relação de Cora para com seus patrões não era das melhores, apesar dos seu silenciar como empregada doméstica.

Neste conto, rápido, porém denso e emocionante, pode-se destacar pontos interessantes a servirem de crítica social, como a segregação sofrida pela família Jenkins, até mesmo para conseguirem trabalho em Melton; a forma como Cora é tratada na casa, sendo uma única pessoa para adar conta de vários afazeres e ao mesmo tempo; a privação dos direitos, como deixar de cuidar da própria filha para zelar  pelos filhos dos patrões, somado aos afazeres domésticos, entre outras coisas… Ou seja, o conto nos apresenta a desumanização do negro. Além disso, Cora Destemida exibe até onde alguém pode chegar para “manter as aparências”.

Cora Destemida faz parte de uma coletânea de contos publicados no livro The Collected Works of Langston Hughes, de Langston Hughes, sendo o carro-chefe do livro. É um conto que desperta grandes e abruptas emoções no leitor, capaz de fazer externizar expressões, diante do que é lido, principalmente em trechos relacionados à protagonista, Cora Jenkins, torcendo pela mesma. É um conto bastante intenso e, apesar de triste, gostei bastante. Recomendo a quem deseja uma leitura rápida, reflexiva e com fortes emoções.