Lemos: Nina – Descobertas

Review of:

Reviewed by:
Rating:
5
On 20 de dezembro de 2019
Last modified:20 de dezembro de 2019

Summary:

“Cabelo ruim”, “cabelo duro”, “cabelo feio”, “bombril”… Você já deve ter escutado alguém falar assim com e/ou sobre outra pessoa. Talvez você seja a pessoa que falou essas coisas ou ainda, ser a pessoa que escutou. Reduzir as características da pessoa negra a algo ruim ou descartável, não é “brincadeira”: é racismo. E quando essa pessoa reclamar, como é feito nos dias de hoje, também não é vitimismo ou o odioso “mimimi”. É estar cansado de escutar tal insulto e protestar contra anos de ofensas que eram ditas como “normais”, “algo cultural” ou ainda que eram “brincadeiras”.

Diante disso, é necessário tomar atitudes para ensinar às pessoas, independente da idade, o que é o racismo. Sim, ele existe e não adianta vir com o “vídeo do Morgan Freeman”, porque enquanto existirem pessoas que insultam pessoas negras por conta do seu cabelo (como aconteceu recentemente com a filha da atriz Samara Felippo com o jogador de basquete Leandrinho) ou por conta da cor da sua pele (como o aluno branco, que se recusou a pegar uma prova da mão de sua professora, pelo simples fato dela ser negra e ele não querer encostar na mão dela), será de extrema importância de debater sobre racismo.

Hoje, nós falaremos de uma obra que faz parte dessa ação, desse movimento contra o racismo: a HQ Nina – Descobertas, de Lhaiza Morena. Escrito e ilustrado por Lhaiza, esse gibi é uma publicação independente. Vem comigo que te conto, sem spoilers, sobre esse quadrinho!

Antes, vamos dar uma olhadinha na sinopse:

Ao se mudar de cidade e ir para uma nova escola, Nina descobre que há muito o que aprender fora da caixa que ela costumava a viver. Irá enfrentar dificuldades e ter sentimentos que ela nunca experimentou antes. Como ela irá lidar com isso? Conseguirá enfrentar essas situações da melhor forma? Esta leitura irá lhe mostrar que precisamos respeitar as diversidades, gostos e decisões. Respeito é fundamental para uma boa convivência. 

Conheço o trabalho da Lhaiza há bastante tempo, através de suas ilustrações divulgadas nas redes sociais. Mas, hoje, você pode ver as ilustrações dela em alguns produtos, como capinhas de celular (minha irmã comprou uma e é lindíssima), camisetas ou até mesmo em embalagens de produtos para cabelos cacheados, como a linha “Boom”, da Seda. Mas foi para tornar-se integrante da equipe Maurício de Sousa Produções, que Lhaiza Morena criou pequena uma história em quadrinhos, cuja personagem era a Nina. O quadrinho foi aprovado, ela entrou na equipe MSP e nós, seguidores, continuamos a ver Nina nas redes sociais de Morena, até surgir Nina – Descobertas.

Fui à CCXP 2019 e lá adquiri essa HQ, com a própria Morena, no Artists Alley. Assim que cheguei da viagem, li esse quadrinho e, mesmo já tendo certeza que seria ótimo, Nina – Descobertas me surpreendeu! É um quadrinho necessário! É aquela obra que, mesmo sendo uma leitura rápida para um adulto, é nítido que tem-se uma “arma” na mão, que ajudará na luta pelo respeito às diferenças e pela exaltação da beleza e aceitação que se quer transmitir à uma criança negra.

Na verdade, Nina – Descobertas ensina às crianças e, porquê não aos adultos, independente da etnia, que olhares de reprovação, comparações e comentários maldosos, exclusões ou “brincadeiras”, relacionadas às características físicas de alguém, causam um impacto negativo na vida do indivíduo. A sensação de exclusão pelo simples fato de ser você, com suas formas, seu jeito, é algo que machuca e a ferida é difícil de cicatrizar.

A personagem lida com grandes mudanças no quadrinho, mas o que vem junto com tais mudanças a faz descobrir que no mundo há pessoas que não sabem lidar com o diferente e que há beleza em ser diferente. Lhaiza Morena transmite em Nina o que várias crianças passam e que, na maioria das vezes, não têm a oportunidade ou não sabem expressar os momentos de exclusão pelos quais passam.

Sou professora e, mesmo ainda não sendo mãe, muitos(a) alunos(a) me vêem como tal. Me enxergam como aquela figura que eles, tanto podem ter, como também podem não tê-la, ainda mais de forma atuante. É claro que, isso é tarefa dos pais também. Diante disso, em algumas atividades propostas ou em avaliações, quando é dada ao aluno a oportunidade de se expressar, na maioria das vezes, encontro relatos de incômodos quanto à maneira como foram tratados por outra pessoa, por conta da cor da pele ou do cabelo. Como educadora, tenho o dever de ensinar o que vai além do conteúdo matemático, científico, linguístico, geográfico e histórico “padrão”. E são recursos como Nina – Descobertas que auxiliam o professor a fazer com que os alunos “enxerguem” a diversidade que há no entorno e perceba a importância de valorizá-la.

De maneira simples, leve, mas bem direta, Nina – Descobertas veio a somar, a contribuir com essa luta para que haja respeito à diversidade. Fiquei muito feliz de saber que terei mais um material que poderá me auxiliar em sala de aula, antes mesmo de acontecer casos de exclusão pela etnia. Isso acontece mesmo em escolas públicas, onde a maioria dos alunos são negros e mesmo quando a figura educadora é negra, como esta que vos fala. O racismo é algo que a sociedade construiu. A pessoa não nasce racista, ela é construída assim. Quando se chega à escola, onde se busca o conhecimento, é necessário abrir os olhares para o mundo, para a diversidade que certa aqueles alunos. Nina – Descobertas é uma leitura necessária.