Lemos: O Ódio Que Você Semeia

Não adianta: sou uma pessoa que gosta de indicações de leituras. Se uma pessoa me indica um livro ou um quadrinho, por mais que eu demore para dar início à leitura, um dia, eu leio. Pode ter certeza. E foi exatamente isso que aconteceu quanto ao livro O Ódio Que Você Semeia, de Angie Thomas. A Laine Kenji, do Instagram e do Twitter @paixaodigital , me indicou esse livro há uns dois anos (ou menos) e eu fui deixando ele ali, mas nunca o esqueci, justamente pelo seu título, que é bem impactante e convidativo.

Portanto, cá estou eu para falar sobre este livro que, inclusive, foi uma leitura recorde, pois o li em uma semana! E sim, isso é uma vitória, pois eu não entrei numa espécie de hiato nesta leitura, algo que acontece e muito!

Bem, antes disso, vamos dar uma lida nesta sinopse (que não é no estilo Netflix), só pra ir sentindo o clima do livro:

“1º lugar na lista do New York Times. Uma história juvenil repleta de choques de realidade. Um livro contra o racismo em tempos tão cruéis e extremos. Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente. Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto. Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos – no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa. Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.”

O roteiro de Angie Thomas é preciso, tem uma linguagem de fácil entendimento, mas eu não posso dizer, né de longe, que ele é leve ou até mesmo fraco. Mesmo que o livro pareça juvenil, devido a idade da protagonista, O Ódio Que Você Semeia é uma narrativa pesada. E ele é, basicamente, o cotidiano, a vida da Starr, sob os olhos dela mesmo. É como se fosse um diário pessoal, é como se a Starr estivesse falando com você, leitor. A narrativa vai te ilustrando tudo o que acontece, com a protagonista nos dois ambientes pelos quais ela transita, uma vez que, os mesmos são completamente opostos. E a protagonista, por sua vez, também “se vê obrigada” a modificar-se, quanto ao seu comportamento, a fins de adequação: mora no gueto, mas estuda numa escola cara, de elite, com os ricos.

Starr e seus irmãos, Seven e Sekani, juntamente com o namorado de sua amiga Maya, são os únicos negros do colégio e, segundo ela, seus comportamentos devem se “adequar” aos comportamentos da elite branca, ao passo que, eles não se destaquem além da cor da pele. Starr regula a si própria, no jeito de se portar, de falar, de reagir, quase sendo duas pessoas ao mesmo tempo, mas sem omitir que mora em Garden Heights.

A ambientação em O Ódio Que Você Semeia é descrita perfeitamente, o que é muito gostoso de ler, pois mexe bastante com a imaginação, pois te permite a mesclar todo seu conhecimento espacial de ambas as partes e inseri-los à leitura. Eu consegui imaginar a casa dos Carter (ela acha que tem parentesco com o JayZ e chama a Beyoncé de “prima”😅), dos King, da barbearia do Sr. Lewis, o mercado seu pai, Maverick ou o colégio onde ela estuda. Essa liberdade durante a leitura é bem prazerosa.

O livro tem muita influência da música como aprendizado, mais precisamente, Tupac e seu movimento THUG LIFE (The Hate U Give Little Infants Fucks Everyone) [O ódio que você passa para as crianças f*** todo mundo]. Inclusive, Khalil e Starr estavam ouvindo o rapper, momentos antes do policial 1-15 pará-los na estrada.

Além da morte de seu amigo de infância, Khalil, e de todas as situações traumáticas e crescimento pessoal que essa morte lhe trouxe, Starr, que tem 16 anos e está namorando, tem que lidar com a situação de namorar seu colega de classe, Chris, às escondidas, única e exclusivamente, de seu pai ciumento e a reação do mesmo ao saber que além de namorar, o escolhido é rico e branco… Sim, O Ódio Que Você Semeia também trata de relações interraciais. Maaaas… Eu não fui muito fã dessa parte, pois é tipo o filme do Ashton Kutcher com a Zoe Saldaña (filme este que é citado no livro também) e eu não sou chegada nessa abordagem, porque acredito que reforce o tal do “racismo reverso”… Maaaas… Há quem goste da abordagem e não veja nada disso, então… São opiniões.

Mais para o finalzinho da leitura de O Ódio Que Você Semeia, percebi uma certa inquietação/ exaustão da minha parte e acabei concluindo que, caso eu tivesse uns 15, 16 anos de idade, ou seja, na mesma faixa etária da protagonista, talvez eu tivesse curtido muito mais o livro. Não que ele não seja bom, ele é maravilhoso, mas a Bel adolescente teria amado. A Bel adulta gostou e achou importantíssimo! Leitura válida! Ah! Tem um filme, de mesmo nome, baseado neste livro. Eu estava relutante em assisti-lo, mas depois que eu vi que a senhora Ofrah é a Issa Rae (de Insecure) e o King é o Anthony Mackie (o Falcão, de Vingadores), mudei de opinião e vou assistir com certeza!