Muito se falou desse filme no ano passado: alguns diziam que era o melhor de 2017, outros diziam que não era lá grandes coisas. Apesar da curiosidade que eu tive na época, acabei não indo ao cinema e tampouco assisti quando ele foi lançado em home video. Isso se deve ao fato de eu ter me saturado do gênero suspense, mas depois do Globo de Ouro ascendeu aquela fagulha e eu resolvi ver se era isso tudo que falavam mesmo (porque comédia e musical eu tinha certeza que não era).
Antes de começar, vamos entender o que rola? O longa traz a seguinte história: “Chris (Daniel Kaluuya) é jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose (Allison Williams). A princípio, ele acredita que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz negro, mas, com o tempo, Chris percebe que a família esconde algo muito mais perturbador”.
Já disse que eu ando meio saturado do gênero suspense/terror, né? Então, esse aqui é diferente! E não é porque ele tem uma trama super revolucionária e um plot twist mirabolante, mas sim porque o diretor Jordan Peele soube conduzir a ideia sem firulas e direto ao ponto com toques de humor e uma forte crítica social a respeito do racismo. Daniel Kaluuya na pele de Chris nos faz sentir toda a desconfiança, desconforto e aprisionamento que a sua personagem sente. O filme transita em diversos tons que me deixou realmente apreensivo como há muito não ficava com um filme do gênero.
A respeito da questão racial, o longa traz cenas brilhantemente construídas que ilustram o racismo velado que existe na sociedade. No começo do filme já vemos um Chris preocupado com uma possível rejeição por parte da família branca da sua namorada, depois temos uma típica abordagem policial a um negro e como último exemplo (porque se não eu me empolgo e dou spoiler) a sequência de diálogos na festa que trazem boa parte dos esteriótipos que os afrodescendentes são obrigados a ouvir sobre a fisiologia da sua etnia. O filme é tão delicado nesses detalhes que conseguiu causar incomodo até em mim que nunca passei por tais situações e tampouco tenho propriedade para tratá-las aqui.
Dentro desse clima de suspense, terror, incômodo, ira, etc. Ainda temos espaço para o humor, que já começa na quebra dos clichês dos filmes do gênero, porque o negro aqui não será o primeiro a morrer. Destaque também para a personagem Rod Williams (LilRel Howery) que funciona perfeitamente como alívio cômico sem estragar o clima do filme, muito pelo contrário, ele ainda deixa o protagonista mais tenso dentro daquela situação.
Corra! é um filme simples e direto. Isso não tira o seu mérito, mas nos mostra que é possível fazer algo bem construído dentro de um gênero repleto de clichês. A personagem principal nos transmite inúmeras sensações que vão do desconforto à ira em sua essência. Dentro de um humor ácido que mal conseguimos rir e em um ambiente hostil onde o negro é o alvo e vive sem segurança. Enfim, é um filme altamente recomendado pelo cuidado com os símbolos e pela trama bem amarrada.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.