A esperança de novas oportunidades e de proteção em um lugar onde se pode enxergar-se como pessoa. É a mensagem que Rudolph Fisher (1897-1934) quis passar em seu conto A Cidade de Refúgio, conteúdo do mês do Clube da Caixa Preta, financiamento coletivo da Editora Escureceu, que resgata contos de escritores negros nunca antes traduzidos e não menos importantes. Lido o conto, aqui estou para falar das minhas impressões. Siga-me!
Antes disso, a sinopse:
Após matar um cara branco na Carolina do Norte, King Solomon Gillis vai para o Harlem, em busca de refúgio das restrições de onde veio, fugido de um quase linchamento pelo ocorrido. Com pessoas negras prosperando em seus comércios, com dinheiro, andando livremente e até tendo um policial negro na rua, o Halem Negro lhe parece muito acolhedor, mas pode ser que não seja bem isso que Gillis encontre…
A Cidade de Refúgio é um conto publicado em 1925 que foi escrito por Rudolph Fisher, quando este, além de contista, dramaturgo, romancista, músico e orador, também era médico, fazia residência num hospital. Sendo na época bem recebido pela crítica, o conto aborda uma temática dos embates entre as pessoas negras vindas do sul e as demais pessoas da sociedade negra do Harlem, no auge do renascimento deste, justamente na década de 20.
Tendo a sinopse já anunciado bem a história do conto, creio que se eu falar mais do enredo em si, acabarei dando um spoiler. Mas isso está longe de ser pelo conto ser raso, muito pelo contrário. A escrita tem camadas que requer ao leitor bastante atenção e imaginação no que está ou estará para acontecer na nova vida de King Solomon no Harlem. Isso, porque o autor nos faz ver e sentir junto com Solomon cada coisa que o emociona e que de simples tais coisas não têm nada. Destas, a que mais me “cativou”, foi sua admiração ao se deparar com um policial negro.
Mas nesta chegada a um novo lugar que só de olhar já lhe dá esperanças, por ser uma comunidade composta por pessoas negras em sua maioria, King Solomon é o novato e isso não traz apenas insegurança para ele que chega, como também para aqueles que já são de lá. Partido disso que é uma realidade, meio que dá para imaginar um pouco do que ele passou neste que seria o seu local de refúgio…
Essa esperança, junto ao vislumbre e deslumbre de chegar a um novo lugar em busca de proteção e novas oportunidades, nos remete à realidade das migrações, que ocorre muito no nosso país, por exemplo. Pessoas pobres e, em sua maioria pretas e nordestinas, saem do interior rumo às grandes metrópoles, em busca de melhorias de vida. E, assim como também ocorre na realidade, no conto Fisher aborda que a esperança também pode se dissolver numa possível grande frustração, que afetar esses migrantes de várias formas pesadas.
Portanto, me pareceu que Fisher teve a intenção de com A Cidade de Refúgio propor uma mudança social, quanto à questão do acolhimento aos migrantes e fazer isso no Harlem, me pareceu também uma certa crítica, quanto à aceitações dentro da própria comunidade negra, onde entende-se que deveria ser um local de acolhimento. Atual?! Creio que sim, hein…
A Cidade de Refúgio foi o conto do mês de maio do Clube da Caixa Preta que, mais uma vez, teve a excelente tradução de João Souza, acerta em cheio no sotaque que vai muito além das questões interioranas do personagem, o que nos faz enxergar melhor, neste caso, o protagonista na trama. O final do conto me deixou com vontade de quer saber o que mais aconteceu com King Solomon Gillis e, por isso, menos uma Torrada… Independente disso, é um ótimo conto e recomendo!
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…