Há um bom tempo, ouvi falar de Anansi no desenho do Super Choque. Posteriormente, em Deuses Americanos. Nas duas situações, a figura do contador de histórias me chamou muito a atenção. Recentemente, em um curso, ouvi mais uma vez o seu nome e resolvi conhecer mais sobre. Foi assim que me deparei com o livro Anansi: O Velho Sábio e cá estou para falar sobre.
Mas antes de ouvir a história, vamos de sinopse:
Um dos mais famosos contos africanos, Anansi narra como a astuta aranha Anansi e sua mulher Aso tiveram acesso às histórias que o deus do céu guardava em um baú. Parte da mitologia axânti, o conto tematiza o triunfo da sagacidade sobre a força, e a desforra dos pequenos contra os grandes.
O que sempre me atraiu no mito de Anansi é a sua busca por conhecimento. Por viver em um mundo sem histórias para contar e desejar conhecê-las, a aranha vai ao encontro de Nyame, o deus do céu e guardião do baú com todas as histórias. Anansi pede acesso ao baú e Nyame concorda, mas com condições: a aranha teria que trazer para ele quatro criaturas.
O problema é que todas essas criaturas são mais fortes que o nosso herói. Sendo assim, Anansi deveria vencê-los de forma inteligente. Para isso, ele pede conselhos a Aso, sua esposa, e assim elaboram armadilhas para tentar capturar Onini (o píton que engole um homem de uma só vez), Osebo (o leopardo que tem dentes como sabres), Mmoboro (o enxame de zangões que pululam e picam) e Mmoatia, (a fada que nunca se vê).
Como se trata de uma origem dos contadores de história, o final é previsível. Porém, o que torna essa história interessante é como ela mostra que é possível vencer desafios com inteligência e ouvindo os conselhos, principalmente das mulheres. Diferente dos mitos mais famosos, não é a força que traz glória ao herói, mas sim a sua astúcia.
Outro ponto é que o conto é uma linda representação da cultura africana, onde Anansi é o primeiro dos griots, os grandes contadores de histórias da África que passam o conhecimento e as tradições oralmente, sob às árvores. Há outros aspectos culturais interessantes no livro, mas não vou falar mais do que já falei. Vale conferir.
Por fim, destaco as ilustrações de Jean-Claude Götting, que dão vida à narrativa de Kaleki. As cores e traços do desenhista agregam perfeitamente na história, dando uma ambientação lúdica e cativante. Particularmente, gostei muito da forma como ele imaginou a aranha Anansi. É uma aranha humanoide, mas de uma sutiliza ímpar.
Em tempos onde a velocidade das informações atravessam as nossas vidas, ler Anansi: O Velho Sábio foi uma viagem as minhas memórias de infância, onde eu sentava para ouvir as histórias dos mais velhos. Hoje considero que deixar de imaginar a origem das coisas de forma lúdica, seja uma das maiores perdas que temos ao nos aproximarmos da vida adulta. Talvez seja hora de retornamos às narrativas mágicas para suportarmos melhor o real. Enfim, caso for sentar embaixo de uma árvore e contar suas histórias, aceito o convite.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.