Desde que eu li Rugas, Paco Roca se tornou um dos meus quadrinistas favoritos. Considero muito potente o jeito que ele expressa as emoções em suas narrativas. Recentemente tive a oportunidade de ler A Casa (que sairá pela Devir), um quadrinho semi-autobiográfico que trata a perda do patriarca de uma família. Sem mais delongas, vou falar as minhas impressões.
Mas antes da faxina, sinopse:
Três irmãos retornam para casa de férias onde passaram sua infância acompanhados de suas famílias com a intenção de limpar o imóvel e colocá-la à venda. Mas enquanto a poeira é varrida e o lixo é levado para a caçamba, feridas emocionais de décadas atrás rapidamente preenchem a casa vazia.
O primeiro ponto que quero destacar é a construção estética da obra. Paco parece ter optado por traços mais simples, mas os detalhes que ele pôs na casa fizeram o ambiente transbordar vida. Toda essa construção faz com que a casa seja a protagonista da história. Outro ponto, é que as cores escolhidas, além de bonitas, agregam à narrativa de forma fantástica, porque localizam o leitor no tempo.
Falando na narrativa, o autor executou esta com maestria. Através dos diálogos bem construídos, a história flui naturalmente, como se estivéssemos assistindo o cotidiano de quem está em luto. Apesar de eu considerar a estrutura da obra leve, a mensagem bateu muito forte em mim. Eu não vivi o luto parental, mas acredito por conta da atual situação que estamos vivendo, as questões familiares muito me tocaram. Em suma, é sensibilidade pura.
Por fim, destaco os personagens. A construção dos irmãos é perfeita, porque é através da diferença de personalidade destes que o leitor vai compreendendo melhor os acontecimentos. Cada um traz as suas lembranças e como entendia a relação com o patriarca da família. Em meio às boas lembranças e ressentimentos, eles chegam a ressignificar algumas coisas. Entretanto, não é só o ponto de vista dos protagonistas que enriquece a história, porque os coadjuvantes também possuem bons momentos. Principalmente Manolo.
Com uma narrativa humana e tocante, A Casa me trouxe reflexões e emoções necessárias para o atual momento da minha vida. Por ter uma uma beleza ímpar, considero que é um quadrinho altamente recomendável para quem busca uma leitura que não seja de super-heróis. Eu poderia seguir aqui rasgando elogios, mas vou finalizar dizendo: leia assim que possível!
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.