Meu primeiro contato com o trabalho do Zé Wellington foi em 2019, através de Cangaço Overdrive, publicado pela Editora Draco. Na época, fiquei encantado com aquela narrativa que trazia um nordeste cyberpunk e sabia que precisava ler mais do autor. Naquele mesmo ano, tive a felicidade de conhecer Zé na CCXP e adquiri outras obras excelentes. No final do ano passado, saiu Mata-Mata, a mais recente história contada por Zé e cá estou para falar dela.
Mas antes de limpar as pistolas, sinopse:
Em décadas passadas, o Ceará viveu o auge da era da pistolagem. Políticos guerreavam muito além do campo das palavras, utilizando pistoleiros para silenciar adversários. Esses controversos matadores ganharam fama no período e eram temidos principalmente nas pequenas cidades. Já nos dias atuais, quando este período parecia ter sido deixado para trás, um assistente social se envolve no último serviço de um pistoleiro aposentado.
O primeiro ponto que quero destacar é como a história é fluida e envolvente. Mesmo com o título e a sinopse evitando qualquer mistério sobre a problemática da trama, as páginas iniciais de Mata-Mata deram esse tom e foram me impulsionando uma após outra. Além de ter essa potência, a escrita de Zé é capaz de situar qualquer brasileiro fora do eixo nordeste naquele ambiente. Impressionante como o regionalismo é passado de forma verossímil.
Essa verdade também transborda em seus personagens principais: Ricardo e Ademir. Na figura do jovem idealista, temos o assistente social Ricardo, que tenta de alguma forma se aproximar e ajudar Ademir, um senhor de poucas palavras e paciência curta. A noveleta que já remete bastante aos faroestes, tem sua caracterização potencializada no gênero com a dinâmica entre esses personagens. A cada diálogo, eu conseguia lembrar de inúmeros filmes westerns.
Outro aspecto fantástico da obra é que a mesma é um projeto transmídia. Além do texto, temos as belíssimas ilustrações de Rafael Dantas; a trilha sonora de Rafael Cavalcante, que aumenta a imersão na história de forma incrível; e o áudio drama produzido por Zé Wellington, editado pela 20a20 Produtora, tendo as vozes de Frank Terranova e Alexandre Fontenele. Sobre esse áudio drama, ele funciona como um poadcast dentro da história. Muito legal.
Por fim, cabe destacar como a noveleta, através da ficção, retrata uma parte da história do nosso país. Ao falar da pistolagem, a narrativa leva o leitor de volta ao período do coronelismo, mantendo o diálogo com o contemporâneo, onde esse tipo de prática ainda é comum entre o crime organizado.
Mata-Mata é uma leitura indispensável para quem gosta de viajar pelo Brasil através das letras. Sua narrativa e personagens trazem uma história potente que, certamente, faz o leitor ficar preso em sua mensagem, mesmo após o ponto final. No momento em que escrevo, o ebook pode ser adquirido gratuitamente na Amazon ou na Draco. Se você quiser saber mais sobre o projeto, pode visitar o site oficial.
Aka Joe. Professor de linguagens místicas na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, profissional de estudos psíquicos na Escola Xavier para Jovens Superdotados, amador na arte de grafar e consorte da Bel. Entusiasta dos bardos, contadores de histórias, sábios, estrategistas, aventureiros, tabernistas e bobos da corte.