Lemos: Rastros de Resistência


Reviewed by:
Rating:
5
On 23 de novembro de 2020
Last modified:23 de novembro de 2020

Summary:

Rastros de Resistência é o livro que estava há um tempo no meu carrinho de compras, mas quando o coloquei lá, certamente ele passaria à frente de outros títulos. Essa grande vontade de adquiri-lo se deu pelo fato de eu gostar muito das threads (ou fios ) que o autor, Ale Santos, fazia no Twitter, com narrativas afrocentradas. Não que ele não as faça ainda, mas hoje suas famosas threads foram se espalhando por outras mídias, como o seu podcast, o Infiltrados no Cast, e também, de forma mais extensa, é claro, em Rastros de Resistência, do qual falarei hoje.

Rastros de Resistência é o livro que estava há um tempo no meu carrinho de compras, mas quando o coloquei lá, certamente ele passaria à frente de outros títulos. Essa grande vontade de adquiri-lo se deu pelo fato de eu gostar muito das threads (ou fios ) que o autor, Ale Santos, fazia no Twitter, com narrativas afrocentradas. Não que ele não as faça ainda, mas hoje suas famosas threads foram se espalhando por outras mídias, como o seu podcast, o Infiltrados no Cast, e também, de forma mais extensa, é claro, em Rastros de Resistência, do qual falarei hoje.

Antes disso, a sinopse:

RESISTÊNCIA. Essa é a palavra que melhor define a história do povo negro. Neste livro, Ale Santos resgata o passado de grandes reinos que tiveram sua história apagada ou silenciada ao longo dos anos de colonialismo e pós-colonialismo. Reis, rainhas, guerreiros e amazonas que lutaram bravamente em seus territórios são apresentados com toda sua força ancestral. Conheça a história do líder quilombola Benedito Meia-Légua, da princesa guerreira que invadia navios negreiros, o poderio do Império Axânti, assim como as atrocidades cometidas contra os povos da África e a perpetuação dos discursos de racismo. Como diz o autor, essas “histórias não são apenas um pedaço de cada povo antigo: são pedras fundamentais para reconstruir novos impérios culturais africanos pelo mundo”. Trata-se de uma obra indispensável, que registra o histórico de lutas e resistência do povo negro.

Rastros de Resistência, cujo subtítulo é Histórias de Luta e Liberdade do Povo Negro, chega com um prefácio de peso (e emocionante) escrito pelo rapper Emicida. O que se segue é um prelúdio que conta sobre a força das histórias para os povos africanos e como se deu o apagamento destas, no processo de escravização do povo negro. Talvez, você deve estar pensando que seja uma leitura muito extensa e maçante, mas não. Rastros de Resistência  proporciona uma leitura fluida, de fácil compreensão, muito prazerosa e instigante, dando ao leitor um sentimento de querer pesquisar mais a respeito, uma vez que são histórias que não ouvimos nas escolas.

Histórias estas como de onde veio a expressão “Mas será o Benedito?!”que, com certeza, você já ouviu algum adulto falar. Como aqui nós não damos spoilers, só posso te contar que essa expressão vem da história de um herói chamado Benedito Meia-Légua, que é fascinante e é uma das minhas preferidas. Também temos histórias de heroínas como a princesa Zacimba e Tereza de Benguela, esta última, que é símbolo do poder da mulher negra e que é por ela que temos o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, em 25 de julho. O livro também traz fotografias, litografias, pinturas, além de ilustrações exclusivas (e lindas) feitas por Cristiano Siqueira.

Tal importância dessas narrativas e prazer em descobri-las se dá pelo simples fato de que não tivemos contato com as mesmas nos tempos de escola. Nunca nos contaram da grandeza e potência do povo negro, dos nossos ancestrais, nas nossas raízes e a forma com a qual a nossa história nos é apresentada nas escolas, nos livros didáticos, é de um povo fraco, que se entrega, que não resiste, um povo vazio de cultura, de história, o que não é verdade. Qual negro, que se identificava como tal desde a infância, não se sentia mal quando falavam sobre os negros escravizados que vinham do continente africano? Quem até hoje não se refere à África, reduzidamente, como um país e não como um continente, cujo os países são detentores de uma cultura gigantesca, de povos diversos, com costumes, comidas, vestimentas completamente diversos? É isso que tentam apagar, sem falar no que as grandes mídias sempre forçam em mostrar, a parte da fome, da pobreza, ao invés da beleza e desenvolvimentos dos países.

Ale Santos nos mostrou através de suas threads e hoje, através de livros (lançará um romance em breve), de podcasts (o Ficções Selvagens será lançado hoje, na plataforma Orelo) e, tomara que, futuramente, roteirizando séries de TV, que o povo negro tem história, heróis, uma cultura riquíssima e que TODOS nós devemos reconhecer isso. Mas, principalmente, o negro em diáspora (o deslocamento forçado do povo pelo mundo), além de reconhecer, se aproprie da parte histórica positiva que o homem branco quis/quer apagar. Quando digo isso, é importante também que você, pessoa branca que lê, esse texto, não se ofenda, mas sim reconheça que você está incluído naquele “todos” em caixa alta ali em cima.

Rastros de Resistência: Histórias de Luta e Liberdade do Povo Negro é um dos melhores livros que li neste ano. Mas a prova cabal de que o livro é um dos melhores é o fato dele ser um dos cinco finalistas do Prêmio Jabuti deste ano, em sua 62ª edição. Não há como discordar do Emicida no prefácio. A luta continua e Ale Santos vem escolhendo as flechas e mirando na direção certa, trazendo à tona toda riqueza história de heróis e heroínas do passado do povo negro que tentam apagar. Recomendo a todos este livro e seus podcasts Infiltrados no Cast, que é exclusivo do Spotify e o recente Ficções Selvagens, que é exclusivo do Orelo, além de segui-lo no Twitter com @savagefiction. Rastros de Resistência é um livro que, com certeza, usarei como apoio nas minhas aulas.