Desculpe Te Incomodar (Sorry To Bother You) apareceu na minha timeline, numa interação entre pessoas que eu sigo. Diante da conversa (não fui muito longe para não correr o risco de pegar spoiler) e dos muitos elogios a respeito desse filme, não consegui tirá-lo da cabeça. Inclusive, o poster me chamou atenção, por se tratar de Lakeith Stanfield como protagonista. Demorei um tanto para assisti-lo, mas agora que o fiz, aqui estou para falar das minhas impressões sobre o mesmo. Me segue!
Mas, antes disso, siga o roteiro, ou melhor, a sinopse:
Em uma versão atual alternativa de Oakland, o atendente de telemarketing Cassius Green descobre uma chave mágica para o sucesso profissional, que o impulsiona a um universo macabro.
Apesar de eu ter colocado a sinopse, ela foi dita como quase que desnecessária na tal conversa que “presenciei” e, com isso, foi sugerido que não a lêssemos, que era para assistir o filme direto. Intrigada, resolvi ler e, realmente, ela não me dizia muita coisa a respeito da trama. Após assistir Desculpe Te Incomodar entendi o porquê: ele te surpreende com “absurdos”, com coisas fantasiosas , mas que, ao mesmo tempo, não está tão distante de nós.
Você se prende ao filme, desde o início, quando Cassius Green (Lakeith Stanfield) está numa entrevista de emprego para o cargo de atendente de telemarketing, apresentando todos os seus grandes feitos durante a vida, até aquele momento. Não vou me ater ao diálogo, pois acredito que vá estragar a magia do filme para conquistar quem decide assisti-lo, mas o diálogo já contém uma baita reflexão a respeito de um dos temas do filme, que é o capitalismo. Mas posso te adiantar uma frase que, além de ter mexido comigo, resume bem o diálogo: “Siga o roteiro.”
Cassius mora na garagem da casa de seu tio, Sergio (Terry Crews), que precisa que seu sobrinho lhe pague o aluguel, pois ele também está com os aluguéis da casa atrasados e corre o risco de perdê-la. Esse é um dos combustíveis para que Cassius ascenda em seu trabalho como atendente de telemarketing, literalmente, pois eles sempre são motivados a ir para o “andar de cima”, onde dizem ter melhores condições de trabalho. Ele namora a artista plástica Detroid (Tessa Thompsson) e tem um melhor amigo, Salvador (Jermanie Fowler), pessoas com quem dividem o mesmo espaço no trabalho. Mas após seu colega de trabalho Langston (Danny Glover) lhe dar uma “grande dica”, as coisas mudam para Cassius.
Só que, as coisas em Desculpe Te Incomodar não acontecem de qualquer jeito. E esse é um dos diferenciais do filme de 2018, pois ao mesmo tempo em que Cassius é surpreendido em suas atribuições no trabalho, o espectador passa pelas mesmas sensações do personagem, diante do novo, diante das situações as quais Cassius “cai” com cada cliente que ele tem que atender e vender os produtos.
Além dessa imersão, Desculpe Te Incomodar tem no seu plot twist algo realmente inimaginável, que reforça o que falei sobre não adiantar ler sinopse ou “resenhas” que contém spoiler. São acontecimentos que conseguem reforçar, absurdamente, toda temática da trama, que também discursa sobre racismo, empoderamento feminino, desigualdade social e confronto entre classes. Essa temática também é usada por Detroid, como um protesto artístico, em seus brincos e camisetas.
Tem alguma mensagem no curativo na cabeça de Cassius a qual eu não consegui pegar. Mas ele me lembrou o personagem Afro Samurai, do anime de mesmo nome. Talvez o roteirista e diretor Boots Riley quis fazer um referência ao personagem por ser fã ou ainda por ser uma história protagonizada por um negro e um elenco composto em grande parte por negros, colocando esse protagonista como um grande herói. Ou então, eu só estou “viajando” mesmo…
Desculpe Te Incomodar tem uma abordagem que mexe com o protagonista e com o espectador ao mesmo tempo que somada a fantasia, proporcionam cenas que posso dizer que são, literalmente, inesquecíveis e com uma intenção de chocar, incomodar, mas para te forçar a entender a luta de quem está na base da hierarquia econômica onde, em grande maioria, estão os negros, sendo isso um registro do racismo. Olha, positivamente, esse filme me incomodou sim.
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…