As séries das quais o título tem “Little”, eu não sou muito chegada (rs) não, mas depois de tanta propaganda (lê-se insistência) do Prime Video, assisti o trailer de Little Fires Everywhere ou, traduzindo, Pequenos Incêndios Por Toda Parte. E ok, Prime Video, eu não tinha obrigação nenhuma, mas, depois de ser tentada, inclusive a ler comentários sobre a mesma em posts de redes sociais (propaganda é pesada, real) finalizei essa minissérie e cá estou para falar sobre ela.
Mas antes, vamos dar uma olhadinha na sinopse, que não é a da Amazon, porque só tinha uma linha e “deve estar competindo” com a Netflix:
Um encontro entre duas famílias, completamente diferentes, vai afetar a vida de ambas. Elena Richardson (Reese Witherspoon) é uma dona de casa perfeita que aluga uma de suas casas à Mia Warren (Kerry Washington), uma artista solteira e enigmática que se muda para Shaker Heights com sua filha adolescente, Pearl. Em pouco tempo, as duas se tornam mais do que meras inquilinas: todos os quatro filhos da família Richardson se encantam com as novas moradoras de Shaker. Porém, Mia carrega um passado cheio de mistérios e um desprezo pelo estilo de vida dos moradores daquela comunidade tão estranhamente ordenada.
Ninguém me recomendou essa série. Pequenos Incêndios Por Toda Parte chegou ao meu conhecimento, através de propagandas do Prime Video. Em uma dessas, eu acabei me rendendo a ler comentários que fizeram numa das postagens de uma rede social e, como as pessoas só falavam bem, resolvi ver qual é. E não me arrependi. Pequenos Incêndios Por Toda Parte é, na verdade, uma minissérie do Hulu, aquele streaming da Disney, sendo uma adaptação de um romance de mesmo nome, lançado em 2017, pela escritora norte-americana Celeste Ng, que também estava envolvida na produção da minissérie. E esse nome faz jus total à série, que já começa com um grande incêndio, propondo-nos a descobrir quem, como, onde, e o porquê da culminação daquele grande incêndio.
Todos os personagens têm características marcantes e fortes, o que também não isenta alguns estarem inseridos nos clichês de filmes americanos. Mas isso se torna compreensível, quando Mia e Pearl chegam à comunidade Shaker Heights e a forma como são tratadas pelo simples fato de estarem com o carro estacionado num local que não era proibido. Ah! Mas, apesar de não ter sido mencionado na sinopse, vale dizer aqui o motivo de tanto estranhamento dos demais com as futuras moradoras, logo de início: elas são negras e, aparentemente, devido ao estado do carro em que estavam, são pobres. É aí que, Elena, que faz um dos primeiros julgamentos, adverte o guarda a retirá-las de onde estavam estacionadas e, um tempo depois, aceita deixá-las morar na casa que alugara.
Elena só não imaginava que todos os seus quatro filhos (dois meninos e duas meninas) e, de certa forma, também o seu marido Bill (Joshua Jackson) se encantariam de formas e em momentos distintos por Mia e sua filha, Pearl (Lexi Underwood). Além de serem uma novidade local, as duas eram misteriosas, quanto aos seus gostos e atitudes. Haviam pessoas de outras etnias em Shaker Heights, mas eram os clichês de filmes americanos e o que se esperam deles: envolvidos com o esporte ou em empregos em que serviam aos brancos do local. Mia é artista, mas o que faz não era visto como arte. Pearl escreve poesias, mas, quando diz isso para as pessoas elas ser surpreendem e querem ler, as com ares de desdém. Isso fica nítido também nos diálogos entre Elena, sua filha Lexie (Jade Pettyjohn ) e o namorado dela, Brian (SteVonté Hart), em que ela se refere a Brian como “afro-americano” e se surpreende quando o rapaz dá a entender não ser tão fissurado por esportes. O que é muito estranho para uma comunidade que se diz não ter preconceitos.
Os temas maternidade e racismo são o que regem a minissérie de oito episódios, com um pouco mais de cinquenta minutos cada um. Há questões pesadas da maternidade, como querer e não querer um filho e como a rejeição ou a superproteção têm efeitos drásticos na vida das mães e de seus respectivos filhos. Fora aquela coisa de desejar ser mãe ou ter sido filho de uma outra pessoa com quem se tem mais afinidade. Em Pequenos Incêndios Por Toda Parte isso é bem mais forte, porque, ao longo da série, vão sendo reveladas situações do passado na vida dessas duas mulheres, que as levaram no momento atual. Falando nisso, é importante destacar que a série é ambientada em 1997.
Essa questão do passado das duas vir à tona gradativamente, mexe muito com o telespectador, instigando-o a permanecer assistindo a minissérie. E tais revelações, vão nos permitindo desenvolver possíveis enredos e eu, inclusive, pensei em vários: achava que Mia e Elena já se conheciam, mas apenas a primeira se lembrava e queria se vingar ou também achei que elas tinham sido namoradas na adolescência e que Elena fingia não se lembrar… Achei também que Mia fugia de um relacionamento abusivo ou que Pearl era fruto de um estupro… Enfim, a série é tão bem construída, que dá até para fazer várias possíveis justificativas de quem, como e o porquê daquele incêndio ter começado. Acho interessante também esse jogo que há com o fogo, da série iniciar mostrando um grande incêndio e tentarmos descobrir quem, como e onde se iniciaram os primeiros focos.
Falo de Mia e Elena, especificamente, porque a trama gira em torno delas, acho que, se eu falar de todos os personagens, o texto ficará gigante e, corro o risco de dar algum spoiler, pois muitos vão aparecendo ao longo da série e moldando a mesma, de forma que os mistérios que regem a trama vão sendo revelados. Em dado momento, do qual não posso revelar, senão é spoiler, a relação entre as duas fica um pouco enjoadinho, mas nada que pareça ser uma encheção de linguiça.
O desfecho de Pequenos Incêndios Por Toda Parte é forte, surpreendente e, é claro, sem a necessidade de uma segunda temporada, como andam pedindo por aí. Inclusive, isso nunca foi a intenção de seus criadores, que sempre pesavam a adaptação como uma minissérie, o que eu concordo. Mas tem outra coisa que eu acho: que você (se maior de 16 anos) deveria assistir Pequenos Incêndios Por Toda Parte, porque você irá gostar com certeza.
“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…