Das aquisições feitas na CCXP, foi na Jambô Editora que nós enchemos as sacolas com vontade, exceto, com os livros da Fran Briggs. Por quê?! Porque eu queria adquirir as obras das mãos da própria autora. Foi na mesa dela que ela me convenceu a levar Anima, HQ nacional, da Fran e da Anna Giovannini, uma releitura de A Bela e a Fera. Releituras são coisas que me atraem, independente da mídia. Quando é sobre algo que gostei então… Aí, a curiosidade bate forte, mas claro que somada a um certo temor de que não fique tão bom. Gosto muito de querer saber que outra roupagem aquele(a) autor(a) pensou em dar à tal obra. É um misto de subestimar, mas com doses altas de “ele(a) é f***, só por estar fazendo algo diferente”.
Falei que é uma história em quadrinhos, mas sempre que abro um conteúdo lindo como esse e vejo desenhos em preto e branco, com traços de desenho japonês, mesmo que não tenha outras poucas definições, como a história ser de trás para a frente, eu me coço pra não chamar de mangá. É uma coisa que é difícil de entender e eu sempre me vejo nesse ciclo. Não é que chamar apenas de HQ venha a reduzir a obra, mas é que, tipo, tá tudo ali pra ser um mangá e é como se “não fosse considerado” e que fosse um certo desrespeito à cultura, sei lá. Enfim, essa será sempre uma dificuldade de entendimento que terei…
Voltando à Anima, bora pra sinopse:
Um príncipe dos ladrões amaldiçoado após cometer um erro terrível. Uma cortesã que ainda sonha com romances e contos de fadas.
Uma reinterpretação de uma das fábulas mais amadas de todos os tempos, Anima lembra-nos dos monstros que existem dentro de cada um de nós, e de como nossas ações podem libertá-los e torná-los reais.
Primeiro de tudo, você olha para a capa e já percebe de qual fábula se trata esta releitura: A Bela e a Fera. Sem surpresas, até aí, certo?! Mas o que me chamou atenção foi o título, que não remete a nada fábula. Geralmente, há esse tipo de “referência”. Um exemplo que aconteceu com um dos meus livros preferidos Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, em que a releitura chama-se Orgulho e Preconceito e Zumbis (que também tem releitura do filme adaptado) e uma recente releitura, chamada Orgulho que, a propósito, quero muito ler. Mas a releitura de Fran Briggs e Anna Giovannini tem outro nome, o que me deu mais curiosidade ainda de ler e descobrir quais mudanças foram feitas.
Como podemos ler na própria sinopse, “(…)Anima lembra-nos dos monstros que existem dentro de cada um de nós (…)”, ou seja, “anima” significa “alma”. Indo mais a fundo na pesquisa, além de descobrir que era isso mesmo, descobri que para Carl Jung (sim, o psiquiatra) é o componente feminino da personalidade do ser humano, que está no inconsciente de um homem (no inconsciente da mulher, o componente seria o “animus”). A partir disso, tendo lido Anima, torna-se evidente a presença desses arquétipos nos personagens.
Amadeus é uma menina que foge de casa (não se sabe o motivo) e “cai” numa pequena cidade, sendo abrigada por Cleo, uma transexual meio mal humorada, mas que arranca risos do leitor. Diante de tal bondade de Cleo, Amadeus sofre com o preconceito dos moradores da cidade (é assim mesmo, Amadeus), deixando-a à margem, assim como fazem com sua amiga Cleo. Quando esta sai pela floresta e some, à procura de um casarão para saquear e, desta forma, terem algo para comer e pagar o aluguel, Amadeus se vê na obrigação de sair em busca de sua amiga, mesmo com todos os perigos que ela possa vir a encontrar.
Vou me abster de contar a você, caro leitor, o que ou quem Amadeus encontra a partir daí. Mas gostaria de tentar expressar, sem spoilers, a respeito da construção que se segue. Briggs e Giovannini repaginaram personas e justificativas de maneira incrível, sendo perceptível e, consequentemente, engraçado fazer ligações com o conto de fada. A trama torna-se muito atrativa e prazerosa de ler, ao passo que os diálogos possuem expressões atuais, cotidianas e bem próximas nossa cultura, porém é ambientada e datada há séculos. Ah! Gostaria muito de saber mais sobre: o passado de Amadeus e o que a fez fugir de casa; o passado de Cleo e como foi para ela se assumir como trans e sobre Alexis, que tem uma aparência meio que familiar…
Giovannini deu à Anima um traço incrível e único, ao meu ver. Sendo muito detalhista, ao meu ver, ela utiliza muitas texturas nas cenas, mesmo que a mesma seja a representação de um ambiente amplo, onde alguns artistas aproveitam para “não desenhar”. Não incluo as faces nesse pacote, uma vez que não se faz mesmo necessário focar em rostos de personagens transeuntes que não têm importância para a trama, ou que não possuem falas. Mas Anna faz uso das texturas e dos tons de cinza, sem exagerar no preto, deixando as imagens consideravelmente claras, a ponto do leitor conseguir enxergar com exatidão.
Uma das primeiras páginas de "Anima", com a riqueza de detalhes, desenhada por Anna Giovannini.
Compondo uma nova roupagem para A Bela e a Fera, sendo este um clássico da literatura infanto-juvenil, Fran Briggs e Anna Giovannini nos entrega uma releitura que dá a impressão de ter crescido conosco, dando à obra uma pegada mais juvenil, mais teen. Com diálogos engraçados, uma certa malícia e abordando temas como transexualidade e preconceito, Anima é uma leitura que recomendo imensamente a você que gosta de leituras rápidas (240 páginas), divertidas e que conseguem te entreter de forma mágica, mesmo que você não seja mais aquela criança que curtia as fábulas clássicas.
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“Eu sou Groot” e professora. Adoro assistir filmes e séries; ler livros e HQs e “eu QUERIA fazer isso o dia todo”. Espero ter “vida longa e próspera”…